Osni Bermudes Júnior

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?(…)Vem, vem, vem/

Colombina sonhar/

(…) triste Pierrô/

se transforma em

saudade (…)

/vem, vem, vem

Arlequim/

que a tua sina/

é adorar a Colombina/

dos carnavais que

não voltam mais…?

Os trechos acima, de uma conhecida composição de Lamartine Babo, me vieram à mente depois de ter visitado, dias atrás, alguns shoppings de Curitiba. Até aí nada de anormal na rotina de um consumidor que busca comprar presentes para os tais ?amigos secretos? e para seus queridos. O que me chama a atenção, porém, é o fato de a decoração desses estabelecimentos ter começado na primeira semana de novembro. Ou seja: praticamente dois meses antes das festas de fim-de-ano!

Confesso que a minha primeira reação foi um misto de espanto, tristeza e saudosismo. Em meio aos falsos flocos de neve espalhados pelo chão e, diante de um Papai Noel de aparência mais raquítica, pálida e com indisfarçáveis ares de tédio (que saudades dos irmãos Queirolo!), pensei em voz alta: – Cadê o verdadeiro espírito de Natal?

E a ficha caiu! Meras lucubrações de um jornalista-glotólogo-tradicionalista-cristão, pois os tempos são outros. Nada contra a estratégia dos shopping-centers e seus marqueteiros pessoal bastante criativo, aliás. Afinal, todos estão na sua; e o lucro é o grande objetivo nestes tempos de economia globalizada…

Minha tristeza, estupefação e saudosismo provêm da constatação de que, a cada ano que passa, a verdadeira mensagem do Natal vem sendo deturpada, com maior ênfase a valores ligados ao consumismo exacerbado, que atinge o inconsciente coletivo das crianças de todas as… idades(?!#).

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Esse clima de quase ?pânico? generalizado, que aflige as pessoas nesta época do ano chegou a tal ponto que já tem até nome: TPN (Tensão Pré-Natal). O pior é que ainda não encontraram remédio para suas dores de cabeça e efeitos colaterais…nos bolsos.

Parece que as pessoas se esqueceram do real sentido do Natal, data que reverencia o nascimento de Jesus, constituindo uma época, portanto, propícia para enaltecer a paz, o amor e a fraternidade. Em suma: tempo de renascimento e renovação. Tempo de regozijo, perdão, confraternização, solidariedade…

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Os presentes, como fizeram os reis magos, deveriam apenas simbolizar a alegria deste majestoso momento de glória para os cristãos de todo o planeta.

Sugiro que você que é pai, mãe, avô, avó, tio, tia, amigo, ou seja o que for, experimente perguntar a seus pequeninos de idade, mas hoje bastante precoces em termos de mentalidade, o que representa esta data. Tenho quase certeza de que nove entre dez deles devem pelo menos titubear, pestanejar e até gaguejar na resposta. Tamanha a confusão em suas cabecinhas, fomentada pelo bombardeio da propaganda, cujo sonho de consumo é ganhar do Papai Noel (Papai Natal, em Portugal; Santa Claus, na Inglaterra) aquele desejado videogame, CD Player, DVD, celular, computador e outros ?brinquedinhos? de última geração.

Sinal dos tempos ou inversão de valores? Fica a pergunta para reflexão.

Fecho este artigo com o despretensioso esboço da letra de uma música que poderia servir de enredo para as antecipadas micaretas de Natal (aquela cidade do Nordeste brasileiro):

(…) Que saudade dos velhos natais/

Do Papai Noel, de porte robusto, rosto corado e a mais pura simpatia/

Que fazia a alegria da criançada/

Quando ainda existiam presépios mecanizados nas vitrines/

Lembrando o Menino Jesus na manjedoura/

Quando o velhinho desfilava pela Barão do Rio Branco chegando à HM/

Saudosa época em que as árvores de Natal se misturavam com as estrelas de luzes que piscavam da Móveis Cimo/

Que saudade dos antigos natais que não voltam mais…

Osni Bermudes Junior é jornalista