Cadê a Mônica?

Homens de todas as raças se levantam pela paz enquanto as bombas e mísseis explodem no Iraque. Deus e Alá são invocados nos campos de batalha, onde a tecnologia de ponta encontra, na astúcia e coragem da resistência, o inimigo real. O mundo já se divide entre os que apóiam Bush e odeiam Saddam, e os que odeiam Bush e querem a paz. O sangue de humanos mistura-se às areias na tempestade do deserto enquanto em cada cidade do mundo afora travam-se batalhas campais da polícia contra a ira de manifestantes – ironia! – pacifistas.

Em tempos recentes, quiseram cassar o antecessor de Bush por causa de suas estripulias de alcova. Felizes tempos! Éramos todos afortunados e não sabíamos. Que falta faz Mônica Lewinski!

A originalidade da pergunta colocada no título não nos pertence. Fizemos apenas uma adaptação, aproveitando a oportuna deixa. Contam que foi o artista gráfico Milton Glaser que inventou o I Love New York, onde um coração humano substitui a palavra love. Daí por diante, em qualquer cidade surgiram corações vermelhos sobre decalques colados em automóveis que declaram amor à terra de seus condutores. Dias atrás, chamaram de volta Glaser. Deram-lhe missão semelhante. E ele bolou um adesivo azul com letras brancas: Bring Back Mônica Lewinski! (Tragam Monica Lewinski de volta!). Com a licença da moça, que tal espalhar o novo adesivo?

A frase encerra, com outras palavras, uma grande e velha sabedoria: faça amor, não faça a guerra. Era melhor e mais excitante o tempo em que Bill Clinton destinava tempo e energia a experiências sexuais menos ortodoxas. Bush e Saddam, que só pensam naquilo, movimentaram a máquina de guerra mais poderosa do mundo para o espetáculo infernal de um confronto que ninguém é capaz de dizer de que forma vai terminar. Sim, os canhões e baterias de mísseis haverão de silenciar em algum momento. Mas, o que virá depois, com tanto ódio e rancor esparramado?

É emblemático o silêncio ensurdecedor da Organização das Nações Unidas. Antes, incompetente para evitar o início da guerra, agora omissa na tarefa de apontar um caminho digno para a retirada. O silêncio parece aplauso; a omissão, outro sinal de incompetência total. Discutem à boca pequena quem haverá de pagar a enorme conta da reconstrução, passado o apocalipse. Isso é o de menos. Ninguém trará de volta as vidas perdidas, nem transformará a dor de tanta gente no prazer sugerido pela promessa dos dias de libertação. Enquanto isso, outra luta surda já se trava nos bastidores de grandes empresas interessadas no domínio dos campos de petróleo.

A ajuda humanitária que vem a tiracolo de sofisticadas batalhas que engolem bilhões em segundos poderia ser maior, bem maior, caso Deus ou Alá, invocados, operassem o milagre da transformação de mísseis em pão. Sobraria para a África pobre e para todo o terceiro mundo. Mas na história da humanidade tem sido assim: nem Deus nem Alá fazem o que os homens não querem, embora nem sempre atendam seus pedidos. Sem a ajuda de Mônica, transformar o Planeta Azul em vermelho, por exemplo e pelo que vemos, é apenas questão de tempo. Quem viver, verá.

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