O setor aeronáutico do Brasil tem imperdível oportunidade de dar um salto de crescimento se a próxima compra para a FAB de 12 aviões de caça, de última geração, no valor aproximado de US$ 700 milhões, for condicionada à transferência de tecnologia e exigência de que componentes e complementos das aeronaves sejam construídos em nosso território.
A decisão sobre o vencedor da licitação não deve se ater a razões exclusivamente militares ou a fator meramente de preço, uma vez que o contrato extrapola a simples aquisição de aviões e torna-se fundamental obter um offset compensador, que qualifique o país para no futuro produzir e exportar pelo menos parte desses aparelhos.
Em avaliação de leigo, acredito não haver grandes dessemelhanças de performances e de sistemas de ataque entre as aeronaves supersônicas apresentadas pelos consórcios franco-brasileiro (Dassault/Embraer, “Mirage-2000 BR”), russo-brasileiro (Rosoboronexport/Avibrás, “Sukhoi-35”),anglo-sueco (Saab/Bae, “Gripen-39”), norte-americano (Lockheed, “F-16”) e russo (RAC/Mapo, “Mig-29”).
Todos os participantes oferecem financiamentos de longo prazo e, assim, o que vai fazer a diferença é o compromisso de transferir tecnologias nas áreas sensíveis dos equipamentos e de montar aqui os supercaças. Por óbvio, vão ser totalmente descartadas ofertas de elevar importações de nossos produtos e promessas de investimento de companhias fora do ramo .
Parece não haver dúvidas que a disputa vai restringir-se aos consórcios de que participam a Embraer e a Avibras, embora não se deva ignorar a recorrência de pressões avassaladoras como a verificada por ocasião do projeto Sivam, na Amazônia, ganho pela estadunidense Raytheon em que houve até interferência direta do Presidente Clinton, via telefone.
O engenheiro aeronáutico Osires Silva, ex-presidente da Embraer, em artigo publicado na FSP, 03.12.03, esclarece com ciência de causa na matéria que “levando em conta a sofisticação dos produtos e o nível técnico dos equipamentos envolvidos, só empresas com competência comprovada poderiam ter a capacidade de diálogo essencial para tomar conhecimento dos complexos sistemas de vôo e de armas de tais aviões. Apenas elas contam com equipes treinadas em projeto e desenvolvimento de aeronaves e, muito importante, familiarizadas com os evoluídos processos de assistência técnica aos usuários ao longo do tempo.
Fundamental, portanto, é a qualificação dos engenheiros, técnicos e empregados da Embraer, hoje com renome mundial, que ainda recentemente realizou vôo experimental de aeronave por ela montada na China.
Nos Estados Unidos, Europa, África e Ásia estão presentes no espaço aéreo aviões comerciais de procedência brasileira, honrando o pioneirismo de Santos Dumont.
É de se evocar a memória do presidente Arthur da Costa e Silva, em cujo governo a Embraer foi constituída e o mérito dos dirigentes e funcionários da estatal que, com entusiasmo e competência, absorveram tecnologias alheias e desenvolveram as nossas próprias para tornarem realidade aviões que circulam em todos os continentes.
Depois de privatizada, a Embraer aprimorou processos administrativos e financeiros, racionalizou despesas e praticou métodos modernos de gestão, prosseguindo no aperfeiçoamento e nas inovações tecnológicas, consolidando prestígio internacional para gáudio e orgulho de todos nós.
Durante a última campanha presidencial os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, José Serra e Anthony Garotinho visitaram as instalações da Embraer e foram unânimes em lhe prodigalizar elogios e assegurar apoio para seu fortalecimento.
Recentemente, no Congresso Nacional foi organizado Bloco Parlamentar em prol das firmas aeronáuticas verde-amarelas.
Evidencia-se de maneira irrefutável que o interesse nacional aponta necessariamente como triunfante na concorrência pública, sob a órbita do Ministério da Defesa, o consórcio franco-brasileiro Dassault/Embraer, que garante transferência irrestrita de tecnologia, abrangendo por inteiro o domínio de software e dos códigos-fonte dos caças e se propõe a construí-los aqui dentro, garantindo a futura inserção do Brasil no pequeno e seletivo rol de países exportadores de aviões supersônicos de combate.
Léo de Almeida Neves
é ex-deputado federal, ex-diretor do Banco do Brasil e autor dos livros Destino do Brasil: Potência Mundial e Vivência de Fatos Históricos.