O cineasta Cacá Diegues continua fazendo filmes ruins com dinheiro público e ainda reclama. Nós que deveríamos reclamar de tanto desperdício de um ervanário cada vez mais escasso para os investimentos públicos. O que o governo deve fazer é fomentar a cultura, aquela que não encontra espaço nos grandes meios e fica ameaçada de se acabar. Ou seja, no meu ponto de vista, o varejo precisa ser mais bem atendido, enquanto o atacado precisa se adequar ao mercado.
Por exemplo, enquanto muitos prédios antigos e históricos estão por desabar em Curitiba, algumas empresas resolveram patrocinar uma coletânea de música local que é uma decepção (com dinheiro de incentivos fiscais!). Quem ouve esses artistas, a não ser seus parentes, amigos e puxa-sacos? Mal tocam nas rádios daqui. Se pegassem as melhores músicas e colocassem em apenas um cd já estaria de bom tamanho.
Mais de 70% das vendas de discos no Brasil são de artistas brasileiros. Isso quer dizer que ninguém pode reclamar que o povão é americanizado e que não valoriza seus próprios conterrâneos. Os curitibanos precisam deixar o ranço provinciano de lado e partir para o mercado, afinal não somos capitalistas? Isso significa mais trabalho, profissionalização e, principalmente, talento. Quem não tiver este último, que procure saber qual a sua verdadeira vocação.
O tema levantado pelo Diegues é relevante e até já foi abordado aqui por Edílson Pereira. Mostra que muita coisa precisa ser mudada, inclusive aqueles mendigos (o cineasta está nesse grupo) da cultura precisam mudar o discurso. Figurinhas carimbadas dos cadernos de variedades que mamaram na extinta Embrafilme, se agarram nas leis de incentivo fiscal e agora querem uma boquinha no novo governo. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, que abra o olho. Sua pasta é uma das que têm menos verba e ainda por cima vive sendo sobrevoada por uma nuvem de gafanhotos pronta a atacar.
A minha proposta é que dinheiro público seja investido na recuperação e/ou construção de museus, bibliotecas, centros culturais, etc. São obras físicas, tangíveis e plurais. Não são promessas (cadê o filme Chato?) e nem produto de egos inflamados, que servem apenas a alguns poucos privilegiados. Quem quer experimentar que experimente, mas que arranje recursos para suas aventuras pessoais. Existem muitas gravadoras independentes e produtoras pequenas produzindo muita coisa de qualidade e sobrevivem sem dinheiro público.
Portanto, meu caro Cacá Diegues, está na hora de o senhor começar a mudar sua postura. O cinema brasileiro precisa crescer e se desenvolver. Sozinho! Tem que virar indústria, gerar empregos e colocar o Brasil no mapa dos grandes produtores mundiais de película. Com filmes bons, não só para a crítica, como para o povão. O mesmo vale para o pessoal da música, do teatro, da dança, etc. E tenho dito.
Rodrigo Sell (esportes@parana-online.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.