Pode ser que um estudo sério e acurado venha a provar que o governo federal não tem excesso de funcionários. Talvez até estejam faltando muitos e em setores essenciais. Ou, o que é mais provável, há uma má distribuição de servidores entre as centenas de repartições públicas. E atribuições governamentais que se fossem entregues à iniciativa privada dispensariam muitos funcionários públicos e ainda tornariam o atendimento aos interesses do povo mais eficiente. Mas aí entram posições ideológicas ou, mais freqüentemente, tabus ideológicos. Os governos de esquerda, e este tem pretensões de sê-lo, embora suas políticas o desmintam, tendem a fazer com que o governo se meta em tudo, seja dirigente de tudo, mande na iniciativa privada. Ou mesmo a substitua, transformando empresas em repartições públicas. Diante dessas dúvidas, pode haver quem defenda a criação de mais 626 novos cargos de confiança, adicionando ao Tesouro, em despesas de pessoal, mais de R$ 2 milhões mensais.
Nunca neste País (desde a proclamação da República ou desde que por aqui apareceu o português Pedro Alvares Cabral) existiram tantos cargos de confiança no governo. Agora, o total chega a 22.189. Isso soma-se ao funcionalismo estatutário, cujo número ninguém é capaz de, com segurança, revelar. E ainda dos celetistas, que, legal ou ilegalmente, permanecem nas folhas de pagamento e até se multiplicam com o uso de falsas ONGs (organizações não governamentais) que existem para executar tarefas para o governo. Ou, quando não, para viver do dinheiro dos cofres públicos. Como se não bastasse o elevadíssimo número de cargos de confiança e funções gratificadas e a criação de mais ainda, quando o que se recomendava ao governo era economia em custeio e redução da pesada máquina do Estado, Lula ainda mandou dar um aumento de até 139,75% para os ocupantes desses cargos. São aumentos que vão de 30,57% a 139,75%. O mais alto beneficia 3.588 servidores.
Haverá aumentos de R$ 1.232 para R$ 1.977 mensais; de R$ 1.403 para R$ 2.518; de R$ 4.898 para R$ 6.396; de R$ 6.363 para R$ 8.400 e os mais afortunados receberão majoração que eleva seus ganhos de R$ 7.575 para R$ 10.448. Como todo mundo se lembra e até gostaria de esquecer, no começo do mês o Senado publicou decretos reajustando em 28,25% os salários dos parlamentares, do presidente da República, de seu vice e dos ministros, tudo retroativo a 1.º de abril. Para o trabalhador em geral, o aumento do salário mínimo elevou-o para a importância de R$ 380,00. Importância é apelido. Esse valor não tem importância alguma se é mesmo para cobrir as despesas absolutamente indispensáveis de um trabalhador e sua família, pois aí deveria ser alguma coisa em torno de R$ 2.000,00.
O que provoca justas críticas é a negativa do governo de fazer economia para que sobre dinheiro para atividades fins. Gasta no funcionamento e, diga-se de passagem, mau funcionamento da máquina burocrática. Adicione-se a essa razão de descontentamento o fato de que os que irão ocupar os novos cargos agora criados e preenchem todos os 22.189 chamados cargos de confiança, não precisam de concurso público.
E, não raro, mas com certeza majoritariamente, são parentes, amigos ou correligionários dos políticos que os nomeiam. Forma-se com o dinheiro dos contribuintes a base da turma situacionista. Com raras e honrosas exceções, esses funcionários privilegiados são, antes de mais nada, meros cabos eleitorais.