O C-Bond, principal título da dívida pública brasileira, bateu ontem um recorde ao ser negociado a 100% do valor de face. É a primeira vez, desde que começou a ser negociado, em 1994, que o papel atinge essa cotação. Com a valorização do papel, a taxa de risco-país cai 2,36%, aos 411 pontos básicos, o menor patamar desde outubro de 1997. No auge da crise econômica pré-eleitoral em 2002, o C-Bond chegou a ser negociado a 48,68% do valor de face, metade do que vale hoje.
Com o C-Bond cotado a 100% do valor de face, o governo brasileiro poderá exercer a opção de recompra dos títulos, prevista no contrato de emissão dos papéis, que entraram em circulação em 1994. Os C-Bonds foram emitidos em abril de 1994, durante o programa de reestruturação da dívida externa brasileira. Os papéis vencem em 15 de abril de 2014 e a recompra ajudaria a melhorar o perfil de endividamento do País.
Se optar pela recompra, o governo terá de avisar o mercado com antecedência – entre 30 e 60 dias antes do resgate -, que deverá ser feito no dia 15 de abril, mesma data em que vence o pagamento de juros.
A operação de recompra chegou a ser comentada por analistas e admitida pelo diretor da área internacional do Banco Central, Alexandre Schwartsman, no ano passado.
Captação
A expectativa do mercado é de que o Brasil volte ao mercado internacional ainda neste mês para captar recursos, a exemplo de outros países emergentes (México, Venezuela e Turquia), que já aproveitam a forte demanda dos investidores por papéis que rendem mais do que os títulos dos EUA.
Anteontem, o México vendeu US$ 1 bilhão, o dobro da oferta inicial, em bônus com prazo de cinco anos, com o papel pagando juro de 7% acima da Libor (taxa interbancária de Londres). Foi uma das mais baixas da história do país, em uma operação liderada pelo Citigroup e Deutsche Bank.
Ontem, foi a vez da Venezuela captar US$ 1 bilhão com bônus de 30 anos, pagando uma taxa de 10,125% ao investidor ou 503 pontos acima dos títulos do Tesouro dos EUA. A demanda foi estimada em US$ 3 bilhões. A captação foi liderada pelo JP Morgan.
A Turquia também vendeu ontem US$ 1,5 bilhão em bônus de 30 anos, com retorno ao investidor de 8,23% ou 316 pontos acima da taxa paga pelos papéis americanos de referência, em uma operação liderada pelo Citigroup e UBS.
Amortização
No dia 15 de abril, o governo também começa a amortizar parte do total da dívida com C-Bond. O país deve desembolsar cerca de US$ 310 milhões, de acordo com cálculos da consultoria Global Invest. A segunda parcela – do mesmo valor – vence no dia 15 de outubro.
Neste ano, ao todo, serão gastos pelo menos US$ 620 milhões com amortização da dívida emitida em C-Bonds. A dívida total é de US$ 6,5 bilhões (saldo devedor atual, segundo dados do Banco Central).
O governo também terá gastos com o pagamento de juros desses títulos, cuja remuneração tem variação de cerca de 9,5% ao ano sobre o valor de face dos papéis.
Troca
Segundo alguns analistas, para o governo, seria vantajoso substituir o C-Bond por outro título, redistribuir os vencimentos e se livrar da amortização de capital que começa neste ano.
Apesar de ser um título com alta liquidez no mercado, o C-Bond paga um ?spread? (taxa de risco adicional cobrada no mercado financeiro internacional) maior que outros títulos da dívida brasileira. Isso porque o C-Bond é um título que foi criado para reestruturar uma dívida anterior, que o governo não tinha como pagar.
Só para exemplificar, o spread pago pelo C-Bond, que vence em 2014, varia em torno dos 430 pontos básicos, valor maior que o Global 30, que vence em 2030, que paga 420 pontos básicos. O spread do Global 2010, por exemplo, é de 300 pontos básicos.