Embora a pergunta sobre a tentativa de queda da tarifa cobrada sobre o etanol brasileiro no mercado norte-americano tenha sido feita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu colega norte-americano, George W. Bush, apressou-se em responder: "Isso não vai acontecer (mudanças nas tarifas). Até 2009, estas tarifas permanecerão e lá na frente o Congresso norte-americano fará algo".
Diante da insistência dos jornalistas em saber se Lula havia negociado a redução das tarifas e dos subsídios concedidos aos agricultores norte-americanos, o próprio presidente Lula tratou de adotar um tom mais ameno, evitando repetir o adjetivo de "nefasto", usado por ele ontem ao referir-se às taxas.
"Se tivesse esta capacidade de persuasão que você (jornalista que fez a pergunta) acha que eu tenho, quem sabe eu já não teria convencido o presidente Bush de tantas outras coisas que não posso nem falar aqui", respondeu Lula tirando mais uma vez risos da platéia e do presidente dos EUA.
Realista, Lula declarou não esperar que uma nação desenvolvida retire mecanismos de proteção ou subsídio somente porque um país mais pobre pede, e insistiu se tratar de uma ação de "convencimento e conversa de amadurecimento".
Ao usar a metáfora de um carteado, Lula afirmou que todos os países têm cartas na manga e só não as colocaram na mesa porque estas cartas seriam "marcadas" e não poderiam retornar às mãos dos jogadores. "Eu tenho uma carta na manga, o presidente Bush também tem, assim como os outros países. Só não tem quem não quer jogar, ou que já saiu do jogo, mas nós queremos jogar", justificou.
O presidente brasileiro admitiu que os países têm em mãos os "números secretos" de quanto, em volume financeiro, envolveria o fim dos subsídios e das tarifas de proteção do mercado agrícola da União Européia e dos EUA, bem como quanto representaria uma maior abertura comercial do Brasil e do G-20 para adquirir produtos industrializados das nações desenvolvidas.
Alca
Por isso, Lula disse que é possível buscar um acordo, talvez não o ideal, com base nestes valores e, assim, resolver, pelo menos em parte, os entraves da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao mesmo tempo, ele se recusou a comparar o compromisso de destravar as negociações na OMC com o fracassado processo de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
"Não é possível comparar a negociação de Doha com a Alca", disse Lula ao lembrar que, em 2002, quando era candidato à presidente fez inúmeros discursos contra a Alca, "assim como todos os outros candidatos a presidência dos países latino-americanos", e por isso, não quer tratar politicamente a criação da área livre de comércio.
Bush, por sua vez, acompanhou o raciocínio de Lula afirmando que as discussões não deveriam se concentrar no fracasso da Alca e que as discussões de Doha tinham uma razão mais importante para serem bem-sucedidas: a erradicação da pobreza mundial. "Sou realista e sei que a negociação de Doha vai demandar muito trabalho, mas com afinco chegaremos a uma solução", afirmou.
O presidente norte-americano seguiu há pouco para uma visita ao projeto social Meninos do Morumbi, deixando o Hotel Hilton, e, ainda hoje, seguirá para o Uruguai. O presidente Lula passará o final de semana em sua residência em São Bernardo do Campo.