Buratti é preso acusado de tentar destruir provas

Ribeirão Preto (AE) – Rogério Tadeu Buratti, advogado e ex-secretário de Governo do então prefeito Antônio Palocci (entre 1993 e 1994), atual ministro da Fazenda, foi preso hoje (17) à tarde, em Ribeirão Preto. O mandado de prisão temporária, por cinco dias, prorrogável por outros cinco, foi informado a ele pelos promotores do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco), logo após o depoimento prestado ao delegado seccional, Benedito Antônio Valencise, no inquérito que apura possíveis fraudes em licitações de lixo em várias prefeituras paulistas e mineiras. O motivo da prisão, no entanto, foi outro inquérito, por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, aberto hoje (17), que apura a possível destruição de documentos que comprovariam negociações desses crimes.

Além de Buratti, o corretor de imóveis, Claudinet Mauad, de São Joaquim da Barra, município da região, foi preso também hoje (17) sob as mesmas acusações. Ambos foram levados ao Centro de Detenção Provisória (CDP), de Ribeirão Preto, e serão ouvidos possivelmente a partir de amanhã (18), segundo Valencise.

Para chegar ao pedido de prisão de Buratti e Mauad, os promotores do Gaerco solicitaram à Justiça a interceptação telefônica do corretor desde o início de agosto. Porém, foram nos últimos dias que surgiram as provas de que documentos poderiam ser destruídos. Além disso, foi analisada uma documentação recebida do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda.

Na segunda-feira (15), os promotores, com mandado de busca e apreensão, foram à casa de Mauad e apreenderam vários documentos como contratos de compra e venda e escritura pública de fazendas. Esses documentos indicam que Buratti, nos últimos dois anos, comprou três fazendas e ultimamente, duas empresas de ônibus, a Expresso Fadel, nas cidades de Rancharia e Presidente Venceslau.

Pelas informações, a primeira fazenda, em Ituverava, foi comprada por R$ 280 mil, depois trocada por outra, em Pedregulho (onde foram apreendidos vários documentos no início de 2004), por R$ 600 mil, que, por sua vez, foi trocada por outra, em Buritizeiro (MG), por cerca de R$ 1,2 milhão, segundo o promotor Aroldo Costa Filho.

Na última negociação, essa propriedade de Buritizeiro foi trocada, com participação de Mauad na negociação, pelas empresas de ônibus, no valor de R$ 2,6 milhões. Os promotores suspeitam que os valores foram superfaturados nas operações.

Grampo

"Doutor, está cheio de policial aqui na minha casa; o que eu faço?", disse Mauad, na segunda-feira (15), quando os promotores foram à sua residência, de acordo com as interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. "Corra lá e destói tudo", retrucou Buratti, na mesma ligação.

Em outro telefonema, Mauad disse: "Não deu tempo e os homens pegaram tudo." E Buratti, desesperado: "Nossa, minha nossa…" "Se trata de lavagem de dinheiro, pois numa empresa de ônibus é muito mais fácil (conseguir dinheiro) e fazer contratos do que em uma fazenda e para fiscalizar é mais difícil, pois não tem nada legalizado", disse Costa Filho, lembrando que os documentos apontam as propriedades em nome de Buratti e da ex-mulher Elza.

A Mauad seria pago, de acordo com uma interceptação telefônica, R$ 120 mil. O valor seria pago, em dinheiro, hoje (17), porém ambos foram presos antes. O Gaerco investiga ainda as participações de outras pessoas, que poderão ter prisões decretadas pela Justiça. Esse fato deu fundamento aos promotores para o pedido das prisões temporárias por formação de quadrilha.

Segundo os promotores, Buratti declarou, no depoimento do inquérito do lixo, que tem patrimônio de cerca de R$ 1,2 milhão (os bens seriam uma casa num condomínio fechado em Ribeirão Preto, dois veículos Honda Civic, a fazenda de Buritizeiro e as empresas de ônibus).

O próprio Buratti, após ouvir o mandado de sua prisão, informou que ainda tem a fazenda de Buritizeiro e que as empresas de ônibus ainda não estão em seu nome. O advogado dele, Roberto Telhada, considerou a prisão "desnecessária, um exagero", e disse que o patrimônio de seu cliente está "em torno de R$ 1 milhão e alguma coisa".

Telhada informou que não tinha conhecimento do teor do pedido de prisão de Buratti e que irá analisá-lo para pedir um habeas-corpus, que deve ocorrer amanhã (18), pois hoje não daria tempo.

Buratti, que chegou antes do horário marcado para o seu depoimento, dirigindo um Honda Civic, sorridente e brincando com os jornalistas, avisando que falaria depois. No entanto, ele deixou a Delegacia Seccional algemado e cabisbaixo. O promotor Sebastião Sérgio da Silveira, disse que a reação de Buratti, ao ser preso, o surpreendeu.

"Ele reagiu com com tranqüilidade, como se já esperasse", explicou Silveira. "Acho que foi injusta a prisão, mas enfim…" resumiu Buratti, antes de entrar na carro da polícia que o levou ao CDP.

O advogado de Mauad, Miguel Nader, informou que já acompanha o seu cliente desde segunda-feira (15), durante as apreensões dos documentos pelos promotores, o que seria um indício de que Buratti não se surpreendeu tanto com a sua prisão. "Ele (Mauad) não sabe do que se trata, eram contratos de compra e venda", comentou Nader, que buscava mais informações.

Lixo

Buratti, antes de sua prisão, ainda foi indiciado por formação de quadrilha e sonegação fiscal no inquérito do lixo. Segundo Valencise, Buratti não confessou diretamente os crimes, mas admitiu-os indiretamente.

"Ele não confessou que estava (envolvido), mas o dados do inquérito e uma série de situações demonstram inequivocadamente a (sua) participação em inúmeros fatos", disse o delegado. "Diante da impossibilidade de se negar com clareza, ficou evidente toda essa situação", concluiu Valencise.

Palocci

O advogado Telhada informou que as ligações telefônicas de Buratti para a casa do ministro Palocci, em fevereiro de 2004, foram por motivos particulares, pois a mulher do ministro da Fazenda é amiga da ex-mulher do advogado. "As esposas são amigas e há certamente ligações trocadas entre elas, e algumas no período em que Ralf Barquete (ex-secretário de Governo de Palocci entre 2001 e 2002) estava acometido de grave doença e, de vez em quando, o ministro queria informações sobre o seu estado de saúde", detalhou Telhada.

Os promotores disseram que Buratti nem foi indagado sobre essas ligações durante o depoimento e reafirmaram que não ligação alguma comprovada entre possíveis negociações de Buratti com Palocci nos inquéritos em andamento.

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