BrTelecom vai à polícia contra Daniel Dantas

A direção da Brasil Telecom entrou ontem, no 15º Distrito Policial de São Paulo, com uma notícia-crime contra o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, e a executiva Carla Cicco, ex-dirigente da empresa telefônica. Os dois são acusados de terem contratado a companhia Kroll para espionar um dos sócios da Brasil Telecom, a Telecom Italia, em benefício da instituição financeira do banqueiro. "Foi possível verificar a existência de diversas evidências de direcionamento da contratação da Kroll aos interesses particulares do grupo Opportunity", afirma a BrTelecom

A companhia telefônica alega que a contratação da Kroll foi realizada sem autorização da assembléia-geral de acionistas da Brasil Telecom. Na sua iniciativa criminal contra Dantas e Cicco a companhia pede que o processo corra em segredo de justiça. Os advogados da empresa também não se manifestaram sobre as supostas irregularidades cometidas pela antiga administração. O delegado Mauro Guimarães Soares, titular do 15º DP, ainda não se pronunciou sobre a forma como se dará o inquérito

A notícia-crime foi fundamentada em material composto por mais de 500 páginas e cerca de 30 documentos que procuram evidenciar os danos causados à empresa pelos ex-administradores. Constam da peça de acusação papéis referentes ao chamado projeto Lewago. Trata-se de um relatório produzido pela própria Kroll com detalhes das investigações que realizou a pedido da gestão encabeçada por Dantas e Cicco

"O propósito de atendimento aos interesses do grupo Opportunity é evidente ao se verificar que o anexo III do relatório é dedicado a quantificar e analisar os supostos danos sofridos pelo grupo Opportunity em sua disputa com a Telecom Italia (…) o que evidentemente escapa ao objeto dos serviço contratados pela BT", acusa a notícia-crime, assinada pelo advogado contratado pela empresa, José Roberto Santoro

Entre os documentos anexados, está também o Projeto Tokio, que envolvia, segundo a denúncia, a investigação feita pela Kroll sobre as relações entre o Grupo Telefônica e a Telecom Italia. Aqui, mais uma vez, a atual administração acusa Dantas e Cicco de atuarem "em favor da agenda particular dos interesses comerciais do grupo Opportunity"

A notícia-crime apresenta como uma das provas, para sustentar a denúncia, relatos de conferências entre Dantas, Cicco e altos executivos da Kroll no exterior, "pautando as atividades em benefício do grupo Opportunity"

A troca de e-mails foi feita em inglês. Nela, a antiga administração da Brasil Telecom pede, entre outras coisas ambiciosas, que se investigue uma suposta "conexão espanhola", que incluía elos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o rei Juan Carlos. Tudo a partir da suspeita de que a Telefônica teria feito um pagamento ao antigo governo

Segundo os documentos, a Kroll investigou ainda o papel desempenhado por James Lee, suspeito de ser o padrinho nas transações envolvendo a Telefônica, a Telecom Italia e a Globo. Foram objetos de investigação, ainda, Naji Nahas, Carlos Jereissati, Sérgio Andrade, Carlos Alberto Sicupira e Andrea Calabi – todos alvos da disputa do grupo Opportunity com a Telecom Italia. Em carta ao Estado, a Kroll nega que tenha espionado o governo brasileiro

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