A briga entre a italiana Enel e a espanhola Iberdrola, controladora da Neoenergia, pela compra da Eletropaulo esquentou mais uma vez. Se por aqui o grupo italiano ganhou um round, ao forçar a Eletropaulo a cancelar nessa quarta-feira, 25, sua oferta pública de distribuição primária de ações (follow on), a espanhola decidiu jogar mais pesado. Numa carta formal enviada à Comissão Europeia, a empresa reclama da postura da rival nas negociações mundo afora.
No documento, a Iberdrola afirma que a Enel não age de acordo com os critérios de mercado e adota decisões sem a menor lógica econômica. “Eles não estão competindo em igualdade de condições, porque a empresa italiana está tirando proveito de sua condição de empresa estatal (o governo detém 23,6% da empresa)”, diz a espanhola, na carta assinada pela diretora de assuntos europeus da Iberdrola, Eva Chamizo Llatas.
Ela pede que a Comissão Europeia atue para acabar com o risco de distorção da “igualdade de condições” nos mercados em que a Enel opera ou deseja entrar. A Iberdrola acusa a italiana de adotar decisões de investimento irreais, que estão comprometendo os negócios de energia e alerta para a atuação da empresa nas negociações para a compra da Eletropaulo. O documento sugere que a Enel não estaria cumprindo regras de tratado europeu no que diz respeito ao setor elétrico, provocando prejuízos ao grupo espanhol em vários dos mercados onde ambas competem.
No Brasil, a Iberdrola afirma que a Enel está aproveitando sua condição de empresa pública na Itália para tentar influenciar o conselho da Eletropaulo e o órgão regulador (a CVM) e intimidar os concorrentes. A espanhola se refere às reclamações que a Enel fez no fim de semana numa carta aberta publicada nos principais jornais do País.
A italiana questionou a postura da Eletropaulo de dar continuidade ao processo de follow on e ao mesmo tempo fazer um acordo de investimento com a Neoenergia. Diante da reclamação a CVM pediu esclarecimentos a Eletropaulo. A distribuidora paulista respondeu aos questionamentos e “desmentiu” o grupo italiano sobre alguns pontos da carta aberta, especialmente em relação ao “acordo de investimento” com a Neoenergia. Isso porque a primeira proposta da Enel teria sido nos moldes da espanhola.
Novo lance
Na quarta-feira, enquanto Iberdrola fazia sua reclamação na Europa, a Enel reforçava sua proposta pela Eletropaulo pela segunda vez. O grupo italiano elevou o lance de R$ 28 para R$ 32 a oferta por ação da concessionária – valor 8,8% superior à proposta da Neoenergia.
Procurada para comentar a carta da Iberdrola à Comissão Europeia, a Enel não se posicionou. Fontes próximas à companhia rebatem, no entanto, os argumentos da Iberdrola, afirmando que o balanço financeiro do grupo é forte, sendo uma das empresas europeias menos alavancadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.