Brasileiros participam de um dos maiores experimentos científicos do mundo

Rio de Janeiro – Pesquisadores brasileiros que realizam experimentos no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), localizado em Genebra, Suíça, contam este ano com apoio de R$ 2,4 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O laboratório Cern  é considerado o mais especializado do mundo na área de Física de Altas Energias.  Esta é uma área da Física que  trabalha com subestruturas atômicas, ou seja, com partículas de átomos, explicou à Agência Brasil o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, Carlos Alberto Aragão Carvalho Filho.

Dentro dessa cooperação internacional, os pesquisadores brasileiros contribuirão no Cern para que se atinja a mais alta energia do setor da Física de Altas Energias, quando entrar em ação o Grande Colisor de Hádrons (ou LHC), que é um acelerador de partículas pesadas, como prótons. Carlos Aragão disse que ?esse grande colisor tem entrada em operação prevista em 2007, quando ?deverá se tornar a máquina que vai atingir a maior energia de que se tem notícia até hoje para a colisão dessas partículas?.

O objetivo científico da experiência é saber o que acontece na estrutura interna dos átomos. Carlos Aragão revelou que essa colisão é tão energética que reproduz o chamado ?big-bang?, como é conhecida a explosão inicial do universo.

Além de manter o Brasil participando da aventura da Ciência para descobrir como é o universo na sua estrutura mais ínfima, a experiência trará uma conquista prática, enfatizou Aragão. É  o aproveitamento da alta tecnologia envolvida no projeto por áreas da indústria, como micro-eletrônica  e computação, por exemplo.  ?Como conseqüência da participação brasileira nesse experimento, as empresas nacionais poderão  construir micro processadores que vão funcionar em paralelo?, afirmou o diretor da Finep.

Ele revelou  que um dos experimentos originários do Cern que se encontram mais difundidos no mundo é a internet.  ?Ela foi criada no Cern porque o número de pesquisadores é muito grande ? são cerca de 500 especialistas de vários países ? e eles precisavam de uma comunicação ágil e eficiente. Então, desenvolveram esse esquema de comunicação por computador, que hoje em dia qualquer criança utiliza, que é a internet?.

Um dos pesquisadores que estão participando de experimentos do Cern na área de partículas é Leandro Salazar de Paula, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), especialista em Física de Partícula Experimental. O pesquisador afirmou que  esse experimento do Cern é longo. ?A gente espera que ele vá rodar 10 anos?. O funcionamento pleno do colisor está previsto para março ou abril de 2008, após um período de 30 dias de testes que se iniciarão a partir de novembro de 2007.  De Paula  informou que a energia de colisão que resultará da experiência ?é dez vezes acima da maior energia que existe hoje?.

O pesquisador da UFRJ lamentou que não haja uma estrutura de pesquisas perene e sólida no Brasil, com investimento constante. Segundo destacou, graças ao apoio da Finep esta é a primeira vez que existe um projeto de dois anos para pesquisas por brasileiros. O ingresso de mais investimentos  públicos é fundamental nesse processo, disse De Paula, lembrando que recursos privados seriam também muito bem vindos.

A atividade da Física de Altas Energias era apenas teórica no Brasil até o final da década de 40, quando o pesquisador César Lattes deu início à participação experimental brasileira no exterior. ?Ele foi um dos fundadores dessa Física Experimental de Altas Energias?, destacou Aragão.

O Cern é um empreendimento que envolve grande número de países europeus e agora, também, de outros continentes, como Estados Unidos e Brasil, ?porque é a forma de se conseguir operar esses experimentos, que são  muito custosos e que reúnem muitos pesquisadores?, disse Aragão.

O diretor revelou que somente a partir do começo da década de 80 o Brasil passou a ter participação mais ativa nos grandes experimentos de alta energia, embora sem apoio mais estruturado para os pesquisadores, o que só foi possível agora, com o suporte da Finep, usando recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

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