Margarita Wasserman
Estávamos em 1975. Minha filha e netos ainda estavam no exílio, acompanhando marido e pai. Ela e os filhos viajavam esporadicamente para Curitiba, a fim de matar as saudades. Mas, para mim, era muito pouco. As lágrimas eram constantes e, então, com a ajuda de parentes, viajei ao Canadá. Melhor, a Ottawa. Lá tive a oportunidade de conhecer brasileiros que lá viviam porque pediram asilo político. Também conheci outros, que mudaram para o Canadá apenas para ganhar mais dinheiro. Era gente bastante simples, trabalhavam em sua maioria em serviço de limpeza. Quase todos estavam ilegais. A princípio estranhei a maneira como falavam: era uma mistura de português, com palavras em inglês erradas. ?Por favor, você leva o garbíje (lixo) pra baixo… ?Trabalho na segunda flora? (segundo andar). A ?bossa? ( a chefe) ?daquela flora?, não é muito boa, mas a ?bossinha? é bacana. Espere que vou ?parquear ? o carro (estacionar). O carro está todo ?frizado?…( congelado). Em dias de muito frio, as árvores apresentam-se como se estivessem enfeitadas com contas de cristal. São gotas d?água congeladas.
Alguns trabalhavam, antes do inverno chegar, em construções, daí passavam a entregar pizza em domicílio.
Fazia poucos dias que eu estava em Ottawa, sozinha na casa, quando chegou uma ?figura? bastante interessante. Era um camarada baixinho, gordinho e usava uma capa de gabardine. Estávamos em pleno verão e ele era um fiscal da imigração fazendo o seu trabalho, só que entendi que ele também fazia o papel de ?um agente disfarçado?…
Margarita Wasserman – Escritora, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.