A campeã mundial de taekwondo, Natália Falavigna, está à procura de adversária. Desde que ganhou o título em Madri (ESP), em abril, ela lutou apenas uma vez – na Copa Paulistão, em Mogi da Cruzes, no fim de maio.
"É difícil ter campeonatos aqui no Brasil. E quando tem não aparece adversária", reclamou a atleta paranaense, que luta na categoria até 72 kg. E a reclamação tem fundamento. No final de abril, Natália iria participar do Brasileiro Universitário, mas não teve com quem lutar. O mesmo aconteceu nos Jogos Regionais de Araras, em julho.
"Há pouco investimento no esporte e poucos campeonatos. E é difícil ter meninas na minha categoria. Elas preferem tentar o vôlei ou o basquete", contou Natália. "Por que vão se arriscar em um esporte que não dá dinheiro?"
Natália treina desde o começo do ano em Campinas (SP). Antes, os treinamentos eram em Londrina (PR). A mudança se deu por causa de dinheiro. No Paraná, ela não ganhava apoio nenhum. E hoje, tem o patrocínio de uma empresa, além da ajuda de custo da Confederação Brasileira de Taekwondo – o que ainda não dá para bancar os gastos das viagens internacionais.
"Todo mundo quer ganhar da campeã mundial. E eu não tenho dinheiro para participar dos campeonatos", afirmou Natália, que não nega a decepção por ficar apenas treinando. "Preciso achar uma válvula de escape. Às vezes, vou dar uma corrida, fazer outras coisas. Onde já se viu participar de apenas quatro campeonatos ao ano?"
Lutando desde os 14 anos – está com 21 -, Natália não esconde que houve uma evolução do taekwondo no Brasil, mas avisa que muito ainda deve ser feito. "Acho que cada um deve fazer sua parte. Os atletas, a Confederação e as empresas que poderiam investir nos lutadores", explicou.
Ela vai participar de mais três campeonatos este ano: o Campeonato Brasileiro Adulto, no fim do mês, o Brasil Open e os Jogos Abertos de Botucatu, ambos em outubro. "Só espero que desta vez apareçam adversárias", disse Natália.
Mas sua programação está mesmo voltada para a Copa do Mundo do ano que vem e para o Pan de 2007, no Rio. "O que mais sinto falta são de torneios internacionais. Mas eu preciso de mais patrocínios para conseguir lutar, não adianta ficar só treinando. Eu praticamente nem conheço quem são minhas adversárias. Assim fica difícil", admitiu.
A lutadora ficou conhecida no Brasil após o 4º lugar na Olimpíada de Atenas, ano passado. E tirou grandes lições do torneio. "Pouca gente me conhecia e eu acreditava que ganharia o ouro. Não consegui e foi uma decepção. Mas serviu para dar a volta por cima", revelou.
E, com o bom lugar em Atenas e a conquista do Mundial, Natália achava que o taekwondo iria ter muito mais apoio do que acabou tendo. Por isso, vive um misto de decepção e fé. "Não posso reclamar da Confederação agora, pois eles estão tentando melhorar. Vamos dar um voto de confiança pra eles e depois a gente vê. Mas o que não posso é viver do título mundial. Quero conquistar outros campeonatos e a medalha de ouro na Olimpíada de Pequim", avisou.