Londres – O jornal britânico Financial Times publicou ontem um artigo assinado por Robert Zoellick, representante comercial americano, que comenta os resultados do encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Cancún. Zoellick critica a atitude de países como o Brasil, que teriam adotado “um discurso de resistência como tática para pressionar as nações mais ricas e desviar a atenção de seus próprios entraves comerciais”.
“Os Estados Unidos pediram ao Brasil e a outras potências agrícolas para que trabalhassem juntos”, diz Zoellick. “O Brasil recusou, preferindo se unir à Índia.” “Essa atitude do Brasil acaba reforçando o racha entre os países do Hemisfério Norte e os do Hemisfério Sul, em vez de ajudar a reformular a situação da agricultura local”, diz o representante americano.
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter chegado a Nova York no domingo, a imprensa americana praticamente não falou dele ontem. O único que mencionou alguma coisa sobre a viagem de Lula foi o diário Los Angeles Times, que enfatizou a visita do presidente a Cuba. O jornal californiano fala do encontro entre o que chama de “a velha e a nova esquerda”.
“Se Lula quiser realmente se fortalecer como líder do Hemisfério Sul, ele precisa lembrar ao presidente cubano, Fidel Castro, o quanto os países latino-americanos estão comprometidos com a democracia”, diz o Los Angeles Times. Já o Washington Post deu destaque à questão da legalização das plantações de soja geneticamente modificadas da multinacional Monsanto no Sul do Brasil.
Resposta
Em Dubai, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, respondeu as críticas de Robert Zoellick à participação brasileira na reunião de Cancún. Palocci afirmou que o Brasil “tem se caracterizado, nesse episódio e em outros, por um desejo explícito de negociação”. Zoellick responsabilizou o Brasil e outros países em desenvolvimento pelo fracasso das negociações comerciais em Cancún. Segundo ele, se esses países “foram sérios” na busca de um acordo, eles “exageraram na mão” da retórica.
Segundo Palocci, a negociação “é uma caracteristica muito particular do presidente Lula, ele tem feito isso na prática, não apenas na retórica”. O ministro afirmou que não há “nenhum motivo para duvidar da decisão, da vontade, e do potencial do Brasil e seus parceiros na negociação”. A articulação dos países desenvolvidos em Cancún, segundo Palocci, “deveria ser vista como algo que elevou o debate e não o dificultou”.
Palocci também rebateu as críticas de Zoellick às tarifas médias do Brasil no setor agrícola. “Não se pode, quando se trata de negociações comerciais, olhar apenas para as médias” disse.