Brasília – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em sua primeira entrevista depois de deflagrado o escândalo Waldomiro Diniz, admite que “cometeu um erro”, mas nega que tenha praticado “um ato ilícito”. Waldomiro Diniz, seu ex-assessor, foi flagrado em vídeo cobrando propina de um empresário de loterias. A entrevista de Dirceu é assunto de capa da edição da revista Veja que circula neste fim de semana.
“Cometi um erro e posso admiti-lo. Agora, não fiz nenhum ato ilícito”, afirmou o ministro José Dirceu. “Eu não vou sair do governo. Eu não tenho nenhuma relação com esse caso. Não participei, não apoiei, não tinha conhecimento.” Segundo o ministro, Waldomiro não foi afastado no ano passado, quando surgiram as primeiras denúncias contra o ex-assessor, porque o próprio funcionário do Planalto solicitou uma investigação.
“Eu acreditei nele”, disse Dirceu. Ele afirmou também que Waldomiro foi investigado antes de ser nomeado, mas que nada constava contra ele. Dirceu criticou a forma como está sendo feita o que chamou de “devassa” no governo Lula. Ele confirmou a informação publicada pela Folha de S. Paulo, de que pediu demissão na semana seguinte à revelação da fita. “Era meu dever. O cargo de ministro não é um emprego como qualquer outro. Mas ele (presidente Lula), evidentemente, não aceitou.”
Apesar disso, o ministro da Casa Civil afirmou que tem consciência de que irá “pagar um preço político” pelo desgaste causado pelas denúncias contra Waldomiro. Dirceu se manifestou contrário à tentativa de instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os bingos no País.
A reportagem cita a pesquisa Datafolha divulgada na última terça-feira, na qual 67% dos entrevistados disseram que Dirceu deve se afastar do cargo. Para 81%, deveria ser instalada uma CPI para investigar o caso. Ele negou que Waldomiro fosse seu “braço-direito” e afirmou que nunca mais conversou com o ex-assessor após a exoneração deste. “Nem através de intermediários. Para mim, basta o que aconteceu.”
A crise política, no entanto, representa perda de poder político de Dirceu no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mudando a forma de tomar decisões e o próprio núcleo de poder do Palácio do Planalto. O presidente já não está reunindo mais o núcleo duro – formado pelos ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação), Antônio Palocci (Fazenda) e Luiz Dulci (secretário-geral) – para decidir as questões do governo e amplia seu leque de consultas e conselheiros.