Brasília – Em cerca de quatro horas de depoimento à CPI dos Correios, o empresário Arthur Washeck centrou fogo ontem no ex-chefe do Departamento de Contratação de Material dos Correios Maurício Marinho e saiu em defesa do ex-diretor do Departamento de Administração Antônio Osório, a quem classificou como uma pessoa honesta e que não tinha conhecimento das transações de Marinho.

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O empresário disse que encomendou a gravação da fita em que Marinho recebe um pacote de dinheiro com a única intenção de derrubar seu desafeto, que estaria cometendo irregularidades nas licitações e prejudicando sua empresa. Washeck disse que a gravação não teve motivação política e que em nenhum momento tentou proteger o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

"Da minha parte não houve motivação política, mas sim a intenção de colocar um basta no que estava acontecendo. O objetivo era mostrar o que Marinho estava fazendo. Não tentei proteger Roberto Jefferson. Não tinha intenção que se transformasse no escândalo que se tornou. Não tenho ambições políticas, meu negócio é o feijão-com- arroz, tenho que vender", afirmou.

Washeck disse que considera a estatal um órgão de respeito e afirmou que Marinho teria centralizado as licitações para favorecer empresas de seu interesse. Disse que eram corriqueiros os rumores de que Marinho pedia dinheiro de empresas, mas negou que tenha pago propina em qualquer uma das licitações que participou. Washeck disse que pagou R$ 1.500 por dia a Jairo Martins pelo aluguel da maleta contendo a câmera que gravou as imagens e R$ 10 mil a Joel Santos Filho, que participou das gravações. O contato com Jairo teria se dado depois de um serviço de varredura de grampos feito pelo ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Comam, empresa de sua propriedade.

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Washeck disse que a empresa Prot Line foi favorecida em licitações para compra de tênis. Embora entregasse produtos fora da especificação, a empresa nunca recebeu as sanções previstas nos contratos, afirmou. O empresário disse ainda que o dono da Prot Line se apresentava como amigo do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), para intimidar concorrentes: "O dono da Prot Line fala muito em nome do Germano Rigotto, que seria protetor dele". Washeck disse que há dois anos não se compra tênis nos Correios porque a Prot Line vence as concorrências apresentando preços muito abaixo do mercado e entrega produtos fora da especificação por repetidas vezes, sem que seja impedida de continuar entrando nas licitações. 

Sócio diz que gravação foi uma "bobagem"

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Brasília – O empresário Antônio Velasco, sócio de Arthur Washeck Neto na empresa Coman, classificou como "uma bobagem" a gravação da fita com a conversa com o ex-funcionário dos Correios, Maurício Marinho, que deu origem à CPI mista dos Correios. Em seu depoimento, Velasco afirmou que jamais tomaria a mesma atitude de seu sócio, ao determinar a gravação.

Washeck alegou , em seu depoimento, que mandou fazer a gravação porque "sentiu que havia algo de errado nos Correios". O sócio de Velasco abriu seu sigilo bancário e fiscal para a CPI.

A CPI dos Correios vai pedir a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico da empresa Comam, de todos os seus sócios e das pessoas envolvidas na gravação em que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material Maurício Marinho é flagrado recebendo R$ 3 mil. Segundo presidente da CPI dos Correios, senador Delcidio Amaral (PT-MS), a quebra de sigilo permitirá aos integrantes do conselho checar se realmente saíram da conta do empresário Arthur Washeck.