A tese de que os dinossauros foram extintos pelos efeitos climáticos resultantes da combinação do impacto de um meteoro e de intensos eventos vulcânicos, há 66 milhões de anos, acaba de ser reforçada por um novo estudo realizado por cientistas americanos. Em artigo publicado nesta terça-feira, 5, na revista Nature Communications, o grupo de pesquisadores das universidades de Michigan e da Flórida apresenta uma reconstituição das temperaturas do oceano na Antártica durante a grande extinção do período Cretáceo.

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Os cientistas descobriram que, no fim do Cretáceo, há cerca de 66 milhões de anos, houve dois picos abruptos de elevação das temperaturas globais. O primeiro pico de aquecimento – com elevação de mais de 14 graus Celsius, nas médias globais – coincide com a erupção dos vulcões de Deccan Traps, a leste de Mumbai, na Índia. O evento violento provavelmente lançou à atmosfera uma camada de nuvens provocando um forte efeito estufa.

Cerca de 150 mil anos depois, um segundo pico de aquecimento – menos intenso que o primeiro – coincide com o momento posterior ao impacto de um meteoro que deixou uma imensa cratera, apelidada de Chicxulub, na península de Yucatán, no atual território do México.

Segundo os cientistas, o efeito estufa provocado pelas nuvens de poeira e cinzas lançadas à atmosfera pelo meteoro intensificou o ritmo da onda de extinção já desencadeada pelo intenso vulcanismo.

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Para realizar o estudo, os pesquisadores estudaram fósseis de conchas da Antártica, usando uma nova técnica chamada de paleotermômetro de isótopo de carbonato aglutinado.

“Esses novos registros de temperaturas nos mostram uma ligação direta entre os eventos de vulcanismo e de impacto com os picos de extinção – e essa ligação é a mudança climática. Descobrimos que a extinção em massa do fim do Cretáceo foi causada por uma combinação do vulcanismo e do impacto do meteoro”, disse uma das autoras do estudo, Sierra Petersen, pós-doutoranda do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade de Michigan.

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A extinção em massa do Cretáceo, que acabou com os dinossauros e com cerca de três quartos das espécies de plantas e animais do planeta há 66 milhões de anos, tem sido debatida há décadas. Vários cientistas acreditam que a extinção foi causada pelo impacto do asteroide, enquanto outros acreditam que a causa foi o vulcanismo e um terceiro grupo suspeita da combinação dos dois eventos.

Segundo os autores do estudo, há cada vez mais evidências de que ocorreu o que eles chamam de “mecanismo de pressão e pulso”. A pressão gradual de uma mudança climática provocada pelo vulcanismo foi seguida do “pulso” catastrófico e instantâneo causado pelo meteoro.

Os novos registros das temperaturas do Oceano Antártico, segundo Sierra, dão forte apoio ao mecanismo de pressão e pulso. “Antes do impacto, o aquecimento provocado pelo vulcanismo pode ter aumentado o estresse dos ecossistemas, tornando-os mais vulneráveis ao colapso após o impacto do meteoro”, afirmou a pesquisadora.

Para produzir o novo registro de temperaturas, abrangendo 3,5 milhões de anos, do fim do Cretáceo (145 milhões a 65,5 milhões de anos atrás) ao início do período Paleogeno (65,5 milhões a 56 milhões de anos atrás), os cientistas analisaram a composição isotópica de 29 fósseis de conchas excepcionalmente bem preservadas de moluscos coletados na Ilha de Seymour, na Antártida.

Os moluscos viveram de 69 milhões a 65,5 milhões de anos atrás em uma área costeira rasa, em um delta próximo à extremidade norte da Península Antártica. Na época, o continente provavelmente era coberto por florestas de coníferas, em vez do manto de gelo atual.

À medida que as conchas cresceram, elas incorporaram átomos de oxigênio e de carbono com massas ligeiramente diferentes – ou isótopos -, em proporções que revelam a temperatura da água marinha do entorno.

A análise isotópica mostrou que as temperaturas da água do mar na Antártica no fim do Cretáceo eram em média de 7,7 graus Celsius, com dois picos abruptos de aquecimento.

“Um estudo anterior mostrou que a extinção do fim do Cretáceo nesse local ocorreu em dois pulsos próximos no tempo. Esses dois pulsos de extinção coincidem com os dois picos de aquecimento que identificamos nos nossos registros de temperatura, cada um deles alinhado com um dos eventos catastróficos”, disse Sierra.

Ao contrário dos outros métodos usados anteriormente, a técnica de paleotermômetro de isótopo de carbonato aglutinado não se baseia em premissas relacionadas à composição isotópica da água do mar. Essas premissas, segundo Sierra, distorceram tentativas anteriores de ligar a mudança climática às extinções na Ilha Seymour.