O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O’Neill, que em 30 de julho de 2002, e posteriormente em nenhum instante de sua visita ao Brasil pediu desculpas, havia dito, com todas as letras: “Não oferecemos ajuda ao Brasil, Argentina e Uruguai por causa da falta de garantias de que o dinheiro trará benefícios e não simplesmente sairia do país para contas bancárias da Suíça”. O sr. Paul O’Neill sabe coisas do Brasil. Sabe mais que nós sobre o assassino da motosserra e chefão do tráfico de drogas que foi deputado federal; sabe mais que nós sobe o massacre do Tim Lopes; sabe mais do porque FHC mandou o Geraldo Brindeiro engavetar a intervenção no Estado do Espírito Santo, envergonhando todas as OABs do Brasil. Sabe mais sobre o “homem marcado para morrer”, o governador do Acre, Jorge Viana, do que a jornalista Dora Kramer escreveu. Sabe, também, o sr. Paul O’Neill, que o escritor Carlos Heitor Cony disse: “O governo FHC dilapidou o nosso patrimônio. E quem foi para a cadeia? O juiz Lalau e Glória Trevi”. Sabe que o chargista Paixão na Gazeta do Povo do Paraná mostrou o FHC, com cara de medo e chapéu na mão diante de Paul O’Neill, retratando fielmente a situação do Brasil e de todos os países do planeta, diante do G-7: os sete países mais ricos do mundo (Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Itália, França, Japão e Inglaterra), que controlam 70% do dinheiro do mundo. E os Estados Unidos é o Sol e o Júpiter deste sistema. Quanto ao resto, no qual se inclui o Brasil, é o resto. E como diz Shakespeare, “o resto é silêncio”. A única coisa que os deputados e senadores americanos têm medo é do próprio cidadão americano, porque a democracia americana foi aperfeiçoada com o voto distrital e não obrigatório que, evidentemente, é praticado nos outros seis países do G-7. O voto distrital e não obrigatório, segundo o jornalista econômico Joelmir Beting, foi a causa do congresso americano taxar em 30% todo o aço que entra nos Estados Unidos e subsidiar em 160 bilhões de dólares os plantadores de soja. Os cidadãos americanos tratam, de alto à baixo, todos os membros dos seus três poderes (executivo, legislativo e judiciário) como empregados, que de fato são, porque lá a democracia está completada pelo voto facultativo e distrital.
O empréstimo do FMI logicamente veio para o Brasil (no dia 8/8/02). Por quê? Porque uma Argentina do tamanho do Brasil é demais, mesmo para os cidadãos americanos, que têm nas mãos as rédeas dos três poderes da democracia dos Estados Unidos, graças ao voto facultativo e distrital.
Nenhum dos candidatos a presidente do Brasil colocou o voto distrital e não obrigatório em seus programas de governo obedecendo (1) a nossa elite econômica (1% da população); (2), os políticos corruptos e ladrões, hospedados permanentemente nos três poderes, em conluio com a nossa elite intelectual consciente e dolosamente omissa, negligente e incompetente. E todos formam um trio de beijoqueiros das mãos aos pés dos cidadãos americanos, que não querem a concorrência do Brasil, como o oitavo país mais rico do mundo. Preferem o nosso país assim como está: sempre de joelhos.
Paulo Silva Sá
é advogado, licenciado em Filosofia Pura pela UFPR, publicitário e produtor cultural. E-mail: camel@netpar.combr.