A violência urbana tornou-se uma questão nacional, mas uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a segurança não é a preocupação principal dos brasileiros mais ricos e dos mais pobres. É um pesadelo mesmo para a classe média. De acordo com o Índice de Condições de Vida (ICV) elaborado pela FGV a partir dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2002 e 2003 e divulgada no início deste ano, a violência não é a principal insatisfação das classes A e E. Neste segundo estudo com base na POF, os pesquisadores analisaram os dados de 26 capitais e do Distrito Federal e apresentaram como novidade um índice específico para a violência. Os resultados sugerem que, enquanto os mais ricos se queixam mais de problemas ambientais ou com vizinhos e os mais pobres esperam melhores condições de habitação, a violência aflige mais as classes B, C e D.
No entanto, mesmo com um perfil de população forte de classe média, a cidade dos mensalões e dos escândalos de corrupção é que deixa os habitantes mais satisfeitos com a segurança. No ranking dos municípios onde a população menos percebe a violência na área de seu domicílio, Brasília apresenta uma avaliação 72,76% acima da média nacional. "Brasília foge da regra, a violência também é sentida na classe A. No entanto, essa percepção obedece a fatores atípicos, como a própria geografia da cidade, que ajuda a ter dados diferentes", afirmou Ricardo Wyllie, um dos pesquisadores da FGV Projetos.
A campeã de queixas em relação à violência é Belém (PA), cuja avaliação é 79,04% abaixo da média do País. A capital paraense é seguida no ranking da insatisfação, em relação à segurança, por Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS), centro de duas das maiores regiões metropolitanas do País, com -60,06% e -38,51%, respectivamente. No entanto, a pesquisa surpreende ao mostrar Rio de Janeiro e São Paulo em posições intermediárias. Em meio à luta diária entre traficantes fortemente armados e policiais, o Rio ainda fica um pouco acima da média na percepção da violência: 1,24%. São Paulo, também marcada pelo cotidiano violento, teve resultado negativo: 13,64% abaixo da média nacional. "Essa percepção é direta do indivíduo, relativa à área do domicílio onde elas moram. Não tem relação com número de armas ou de ocorrências, que poderá ser investigada em outra etapa da pesquisa. As pessoas avaliam o bem-estar delas. Existem várias hipóteses e uma delas pode ser o fato de que as pessoas se adaptam", explicou o coordenador da pesquisa, Fernando Blumenschein.
Na análise por faixas de renda das variáveis com maior nível de insatisfação, a preocupação com a violência só é a mais citada entre a classe A, com renda acima de R$ 7,4 mil, em Teresina (PI), Fortaleza (CE), Natal (RN), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Brasília (DF). Nas outras cidades, prevalecem questões ambientais. Em São Paulo, é a poluição que mais assusta os ricos. No Rio, quem tem mais renda atribui a desentendimentos com vizinhos o principal risco à sua qualidade de vida.