Violência causa 58,9% das mortes dos jovens

Brasília – A Unesco apresentou ontem, em Brasília, o Mapa da Violência 4, estudo que revela que 58,9% dos jovens brasileiros morrem por causas violentas. O estudo mostra também que os homicídios aumentaram 39,9% entre 1993 e 2002. No mesmo período, as mortes por acidentes de trânsito cresceram 15,6%. “Os jovens matam, os jovens são mortos”, disse Jorge Werthein, representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “E é um problema social, mais do que criminal. São jovens excluídos”, acrescentou Werthein.

O relatório de 170 páginas foi elaborado por uma equipe de 10 pessoas ao longo dos seis últimos meses a um custo de US$ 120 mil e utilizando os dados do sistema de informações de mortalidade do Ministério de Saúde, que registra dados básicos como idade, sexo, local de residência e causa de falecimento. Segundo os dados mais recentes, de 2002, de 47.885 mortes de jovens – pessoas entre 15 e 24 anos – 39,9% se deveu a homicídios, seguido por acidentes de trânsito, com 15,6%, e suicídios, com 3,4%. Isto é, 58,9% dos jovens morreram por causas violentas. O resto deveu-se a doenças diversas, disse Werthein.

O relatório mostra que a idade ápice nos crimes de homicídio são de jovens de 20 anos, sendo este o maior índice entre os homens. Destes, a maior parte é formada por negros. Com relação a acidentes de trânsito a incidência maior é entre jovens brancos. Segundo o estudo, sob a coordenação de Jacobo Waiselfisz, responsável pelo escritório do organismo internacional em Pernambuco, as maiores taxas de homicídios no ano de 2002 foram registradas nos Estados do Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo.

O relatório da Unesco insta o governo brasileiro a “parar e pensar sobre o enorme investimento que é perdido quando morre um jovem aos 20 anos”. Estimativas da Organização dão conta de que o Estado destina em média entre R$ 800 a R$ 1 mil ao ano em serviços e programas básicos de saúde e educação para um jovem. “Só é preciso multiplicar… É horrível fazer esse cálculo, mas é preciso parar e pensar. E a resposta repressiva é mais cara e menos efetiva que a preventiva”, adicionou Werthein. Segundo a Unesco, a saída é implantar uma política pública para a juventude, que articule com eficiência planos já existentes de educação e amplie outros, como o oferecimento de bolsas de estudo. “Não há que inventar nada novo”, disse.

Violência atinge mais negros e os jovens

São Paulo

– Um jovem de 22 anos, que deixou quatro filhos. Um adolescente de 16, morto com tiro na cabeça. Uma moça de 17, cujo corpo foi queimado. A líder comunitária Vânia Aparecida Bonifácio vai enumerando as últimas “baixas” em duas favelas da zona sul de São Paulo. É a triste realidade por trás dos índices mostrados no Mapa da Violência 4, divulgado ontem: o Brasil é o 5.º na morte de jovens, num grupo de 67 países. E o 4.º no número geral de assassinatos.

Nos últimos 24 anos, o número de homicídios entre a parcela mais jovem da população brasileira – dos 15 aos 24 anos -passou de 30 para 54,5 em cada grupo de 100 mil habitantes, segundo a pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Só morrem mais jovens na Colômbia, nas Ilhas Virgens, em El Salvador e na Venezuela.

Crescimento

O número de mortes violentas no País vem subindo aproximadamente 5,5% ao ano desde 1993. “É de uma regularidade impressionante. Poderíamos prever quantos vão morrer no ano que vem a partir dos números que temos hoje”, disse o sociólogo da Unesco Júlio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo mapa. No ranking geral, o Brasil só fica atrás da Colômbia, de El Salvador e da Rússia.

O estudo mostra que o maior número de mortes ocorre com pessoas de 20 anos, negras (65,3%), do sexo masculino (92,2%). A maioria, 64%, morre nos fins de semana, principalmente por armas de fogo.

Um terço dos jovens mortos em 2002 foi assassinado com armas. Se forem contados apenas os homicídios, são 75% dos casos. E o índice vem subindo. Em 1998, eram 66% das ocorrências. Em 2000, 74%. Entre 24 países, o Brasil é o primeiro em casos de assassinatos e acidentes causados por armas de fogo. “Vamos ter de decidir que tipo de sociedade queremos, uma sociedade da paz ou se vamos alimentar essa cultura de violência”, disse o secretário-adjunto de Direitos Humanos, Mário Mamede, ao defender o fim da venda de armas no País, que será decidida em plebiscito marcado para outubro.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo