Brasília – A situação do ministro da Defesa, José Viegas Filho, atingiu um ponto crítico. Ele aparece como o primeiro nome da lista para ser substituído numa provável reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer após as eleições.

Por muito pouco, Viegas não caiu há duas semanas. O processo de fritura envolve acusações, intrigas, lobby de grandes empresas e desgaste interno nas Forças Armadas. Numa conversa com o presidente, ele chegou a pôr o cargo à disposição. Lula não aceitou. Magoado, o ministro diz que se sente mal no meio desse fogo cruzado e considera injusta a campanha contra ele.

Recentemente, numa conversa com dois ministros do comando político, Lula demonstrou sua insatisfação com Viegas. Disse que não esperava episódios que poderiam caracterizar deslizes éticos do ministro. O presidente também demonstrou decepção com a falta de liderança de Viegas com os comandos das Forças Armadas. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, é citado como o mais cotado para substituí-lo.

Além dos componentes da disputa palaciana, porém, Viegas está sofrendo ataques internos e externos que estão minando a sua capacidade de resistência.

“Disse ao presidente: ?O senhor sabe perfeitamente que o meu cargo está, como sempre esteve, à sua disposição. Estou às suas ordens?. E o presidente me deu respostas muito positivas”, disse Viegas.

No flanco interno, os militares estão inconformados por não terem conseguido reajuste de 30% em seus soldos. Acham que faltou firmeza, pulso e influência de Viegas. Mas a principal artilharia é do Comando do Exército, em pé de guerra com o ministro. Viegas foi atropelado pelo comandante do Exército, general Francisco Roberto de Albuquerque, na escolha dos generais que iriam comandar as tropas brasileiras no Haiti.

Pedido

O ministro, que tem a prerrogativa legal para escolher, pediu ao comandante uma lista tríplice, que nunca foi enviada. Albuquerque escolheu o general Américo Salvador para comandar as tropas e o general Augusto Heleno Ribeiro para o comando geral da Força Internacional de Paz no Haiti. Para evitar atrito, Viegas engoliu a seco.

Em nota, o Comando do Exército informou que o relacionamento entre Albuquerque e Viegas “tem-se pautado pela cordialidade e pelo profissionalismo”. Sobre as duas listas tríplices, o Comando do Exército limitou-se a responder que a indicação foi tratada em despacho do comandante com o ministro, que submeteu os nomes ao presidente da República. O Exército afirma ainda, na nota, que Viegas está sensível e favorável à concessão de reajustes dos militares.

O ataque externo vem de todos os lados, inclusive de poderosos grupos de lobby envolvidos na compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), o ambicioso projeto FX, que custará US$ 700 milhões. A Embraer, uma das concorrentes, tem apoio de parte do Congresso. Pelo menos 150 deputados já foram ao Ministério da Defesa pedir pela empresa.

Viegas é acusado sistematicamente de defender a compra do avião russo Sukhoi 35. O ministro chegou a viajar para a Rússia no ano passado, o que aumentou as suspeitas contra ele. “Sou o responsável pela lisura deste processo. Sou imparcial. Meu dever não é dizer se prefiro este ou aquele avião. Estou com a minha consciência absolutamente tranqüila”, diz o ministro.

Oposição deseja a saída do ministro

Brasília –  No Congresso Nacional, o ministro é alvo de duras críticas de deputados da oposição, com a qual chegou a manter bom relacionamento no passado. Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores, a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) defende a demissão de Viegas.

“O ministro não tem voz ativa perante Lula e está desprestigiado com o presidente. Ele não consegue recursos para o ministério. Sua permanência é um risco para a defesa e a soberania nacional”, afirma a deputada, que defende a Embraer na concorrência do Projeto FX.

Viegas foi duramente criticado no Congresso sobre a contratação, sem licitação, de uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas, que teria beneficiado um antigo amigo seu, Antônio Bogado, que trabalhou pela FGV no projeto. Viegas não nega a antiga amizade com Bogado. O trabalho da fundação, de reengenharia das Forças Armadas, custou R$ 1,9 milhão.

No Planalto, pegou mal também a viagem que o ministro fez com a mulher, Érika, e as duas filhas para Mato Grosso do Sul num jatinho da FAB. Em esclarecimento à Comissão de Ética Pública, ele justificou que viajou a trabalho e usou avião particular para se deslocar pelo estado. A comissão concluiu que, como se tratou de viagem oficial, dispensava a presença da mulher. Sobre as filhas, o presidente da comissão, Piquet Carneiro, concluiu que as normas de uso dos aviões da FAB não tratam do assunto. Em sua análise, porém, Piquet Carneiro afirma que, quando se tratar de parentes que não integram comitiva oficial, as passagens deveriam ser pagas no valor do menor custo de bilhete aplicável ao percurso.

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