Viciados voltam à cracolândia após operação da polícia

Vinte órgãos públicos e mais de 250 policiais não foram suficientes para acabar com a cena que se vê há 20 anos na região conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo. Seis horas após o início de nova operação – intitulada “Ação Integrada Centro Legal” – destinada a revitalizar uma das áreas mais degradadas da capital paulista, centenas de viciados voltaram às ruas, com cachimbos em mãos e cobertas nas costas, em pontos tradicionais do consumo de crack.

A operação estava a postos no meio da tarde, mas, mesmo assim, dependentes voltaram a se aglomerar nos arredores do Shopping da Luz e na esquina das Ruas Conselheiro Nébias e Vitória. A maior parte dos consumidores de crack negou o atendimento médico oferecido pelos 120 profissionais do Programa Saúde da Família (PSF), que se espalharam pelas ruas dos Campos Elísios e da Luz. Até no quarteirão onde foi montada a “central” dos agentes, no Largo Coração de Jesus, havia viciados fumando, no fim da tarde, bem próximos de guardas.

Pela manhã, porém, com uma área superior a 600 mil metros quadrados cercada por PMs, os grupos de dependentes se espalharam. Viciados eram vistos sozinhos, tentando fugir da abordagem dos agentes de saúde e pedindo esmolas. Os policiais faziam revistas e não deixavam grupos parados. O perímetro tomado pelos policiais teve a presença de delegados, médicos, secretários e outras autoridades. A promessa é de que a operação dure seis meses e resulte numa “cadeia de revitalização”.

A operação ocorre no momento em que a Prefeitura promove a concessão urbanística da região para a iniciativa privada, em um negócio que pode render até R$ 2 bilhões aos cofres públicos nos próximos 15 anos. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) considera a revitalização da Luz e o fim da cracolândia a bandeira de sua segunda gestão.

Divergência

Logo no início da operação na cracolândia, pela manhã, houve um mal-estar entre as duas áreas que mais deveriam estar em sintonia, na opinião de especialistas – no caso, Segurança e Saúde. De um lado, Aldo Galiano Júnior, delegado seccional do Centro, declarava que dessa vez haveria internação dos viciados de forma compulsória (forçada e com determinação judicial) e que a polícia até participaria do encaminhamento. “Chegamos à conclusão que esse tipo de usuário da cracolândia precisa mesmo ser internado”, dizia o delegado nas primeiras entrevistas.

A menos de 200 metros da pensão que o seccional vistoriava com suas equipes, o secretário municipal da Saúde, Januário Montone, tentava explicar à imprensa que a internação seria involuntária (mediante laudo médico e com autorização do Ministério Público Estadual). Ao ser informado da declaração do delegado, Montone se irritou. “Primeiro que delegado não deveria falar de internação.”

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