O candidato a vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Alencar (PL-MG), disse ontem em Curitiba que compete ao presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – e não aos candidatos à sucessão presidencial – negociar e conduzir o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Ele criticou a proposta de que os candidatos à Presidência avalizem as negociações que estão sendo feitas pela equipe econômica com o Fundo. “Não podemos participar de um acordo com o FMI. Nós não ganhamos a eleição. Estamos disputando. Até 31 de dezembro, o governo é do Fernando Henrique. Compete a ele tomar as decisões. Mas, se formos chamados para um entendimento, vamos participar”, disse o senador, após palestra para empresários na Associação Comercial do Paraná.
Para Alencar, se o governo continuar mantendo sua política econômica – que segundo ele transfere renda do setor produtivo para o sistema financeiro nacional e internacional – o País vai acabar recorrendo ao Fundo Monetário Internacional todo mês. “Antes, íamos ao FMI de cinco em cinco anos. Depois, baixou de dois para dois anos. Agora, se o País não romper com o círculo de endividamento, estaremos indo todo mês”, criticou o senador, que também é empresário em Minas Gerais.
Dívida coletiva
O candidato a vice-presidente de Lula disse que o governo FHC deveria adotar uma primeira medida de urgência: a execução de uma mini-reforma tributária, retirando os impostos sobre a produção. “Esse seria um passo importante. Depois disso, o próximo governo poderia fazer uma reforma tributária mais completa”, defendeu. O senador do PL também previu que o próximo governo encontrará um quadro sócio-econômico “dramático” no País a partir de janeiro de 2003 e que encontrar uma saída para esta crise não é uma tarefa para técnicos, mas para políticos.
José Alencar disse que seria uma demonstração de incompetência de qualquer governo romper unilateralmente os contratos internacionais de pagamento da dívida externa. “A dívida não é do Fernando Henrique. É do País. Não pode ser rompida unilateralmente. Temos que ser responsáveis e competentes. O que se pode fazer é rediscutir os contratos com a participação da sociedade.” Para o senador, uma ruptura pura e simples seria uma saída mais fácil, mas não a recomendada. “Achamos que os contratos devem ser respeitados.”
Alencar rebate dúvidas de empresários
Elizabete Castro
Ao final da palestra na Associação Comercial, o senador José Alencar (PL/MG) foi questionado pelos empresários sobre as posturas de um possível governo de Luiz Inácio Lula da Silva. As perguntas foram as costumeiras: se o PT tem quadros para governar e se o governo Lula respeitaria os acordos internacionais, entre outras. Alencar também se encarregou de comentar as já batidas críticas contra o candidato do PT a presidente, como a de que é um “perdedor” de eleições.
O candidato a 1.º suplente de senador da coligação encabeçada pelo senador Álvaro Dias (PDT), José Carlos Gomes Carvalho, começou a rodada de perguntas querendo saber se Lula honraria contratos assinados pelo atual governo. “O Lula entende que os compromissos não são do presidente da República, que os assinou, mas sim da população brasileira. Contratos são respeitados, o que não significa que não possamos negociar melhor as questões econômicas”, respondeu.
Outro empresário perguntou se o PT teria quadros para governar o País. “O PT tem na universidade quadros técnicos excelentes”, disse Alencar. Entretanto, o candidato a vice observou que técnicos devem ser executores, mas não os donos das decisões. Para o senador, os políticos é que devem ter a responsabilidade de decidir. “Noel Rosa dizia que samba não se aprende na escola. Alguém que passa anos estudando numa escola de música em Viena sai de lá sabendo tudo sobre teoria musical. Mas não faria um samba como Nelson Cavaquinho”, comparou.
Alencar comentou ainda a fama de “derrotado” de Lula. “Ao contrário do que dizem, Lula não é um perdedor. Em 89, eram tantos candidatos. E olha quem eram: Mário Covas, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Aureliano Chaves, Afif Domingos. E quem foi para o segundo turno foi o Lula. Em 94, o que aconteceu foi que ninguém ganharia a eleição do Plano Real”, justificou.
O candidato a vice na chapa de Lula disse que tem conversado muito com o setor empresarial e que as resistências ao petista são normais. “Nós temos que ter a humildade para compreender que não vamos convencer nem a todos os empresários e nem a todos os brasileiros. Mas temos recebido manifestações explícitas de apoio no meio empersarial.”
