Mais de 70% do lucro da agência de publicidade Giacometti com o contrato dos Correios foi parar em contas bancárias da SMP&B do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
A informação é de Dennis Aurélio Giacometti e Iran Castelo Branco, donos da Giacometti, que afirmaram ontem, em depoimento à CPI dos Correios, ter repassado R$ 6,8 milhões à SMP&B. Entre 2001 e 2003, período do contrato com os Correios, a Giacometti lucrou R$ 9,7 milhões.
"Ao todo foram feitos 51 pagamentos em diferentes contas bancárias para a SMP&B", disse Dennis Giacometti. Dos R$ 6,8 milhões, R$ 909 mil foram depositados na mesma conta do Banco Rural, usada por Valério para repassar recursos para o PT e parlamentares da base aliada.
Castelo Branco explicou que o seu contato na SMP&B era com Cristiano Paz, um dos sócios de Valério a quem conhecia desde 1986. Ele informou que a Giacometti compartilhou do escritório da SMP&B em Brasília para reduzir custos.
Por três anos de contrato, a Giacometti recebeu dos Correios R$ 76 milhões, dos quais R$ 9,7 milhões representam seu lucro. "Pelo acordo que fizemos, a Giacometti passava 50% da receita, descontadas algumas despesas como viagens, para o Cristiano Paz", afirmou Castelo Branco.
Tanto Giacometti quanto Castelo Branco afirmaram que nunca se encontraram com Marcos Valério no escritório conjunto da SMP&B e da Giacometti em Brasília. Os dois confirmaram que as duas agências participaram de processos de licitação, concorrendo entre si, apesar de dividirem o mesmo escritório.
"Parece que havia um conluio entre a Giacometti e a SMP&B. Acho muito estranho esse compartilhamento entre duas empresas concorrentes. Me parece que havia uma relação promíscua com a SMP&B", observou o sub-relator de contratos da CPI dos Correios, José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Relatório parcial
Na tentativa de chegar a um consenso com o PT, o sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), afirmou ontem que vai incorporar à sua proposta reivindicações feitas pela bancada petista. Fruet disse que vai retirar do relatório parcial a introdução e a conclusão, onde há expressões contestadas pelo PT.
"O PT quer que tire expressões como projeto hegemônico do partido, esquema escuso do partido. Tudo bem. Estou sugerindo até que se deixe a introdução e a conclusão para o relatório final", disse Fruet.
Ele concordou em ampliar o relatório parcial e vai incluir o empréstimo feito por Valério para a campanha à reeleição, em 1998, do então governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB). No relatório, ele também vai pôr o depoimento de Jacinto Lamas, tesoureiro do PL que admitiu ter recebido recursos do valerioduto, e do ex-presidente do PT José Genoino, que avalizou empréstimos feitos por Valério para o PT.
Fruet vai incluir também o depoimento do publicitário Duda Mendonça sobre o caixa 2 nas campanhas estaduais de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais, entre outros.
Apesar das negociações, o relatório parcial de Fruet dificilmente será votado na quinta-feira, conforme a previsão inicial da cúpula da CPI. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) mantém-se intransigente e quer que o documento aborde os depósitos feitos pela Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular, que eram controladas até o fim de setembro pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity estão sendo conduzidas pela cúpula da CPI.
"Depois do Banco do Brasil, as empresas privadas foram as que mais colocaram dinheiro nas agências do Marcos Valério e o relatório não fala uma linha sobre isso", reclamou a senadora petista.