O encontro de ventos de direções opostas, fenômeno climático chamado de "cisalhamento de vento", provocou destruição e o comprometimento de pesquisas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), na região da Fazenda Santa Elisa, em Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo.
Campinas – O evento climático, ocorrido por volta das 22h30 de terça-feira, atingiu ainda ruas próximas e uma propriedade do Exército. Segundo o diretor de Climatologia e Irrigação do IAC, Orivaldo Brunini, o cisalhamento de vento é um fenômeno pouco comum na região.
Brunini explicou que uma corrente de vento de direção sul encontrou outra de direção norte a aproximadamente três quilômetros de altura com relação ao solo. Ambas estavam a cerca de 60 quilômetros por hora. Com o impacto, o vento foi desviado para o chão, com uma velocidade ainda desconhecida.
"Duas correntes opostas na mesma velocidade se encontrarem é raro, não há muitos registros sobre isso. Esse tipo de evento pode arrancar postes e torres de transmissão do chão", comentou Brunini. Ele explicou que os ventos foram provocados pela chegada de uma frente fria.
"O vento passou girando na minha frente. Foi assustador. Parecia que tinha alvos específicos", comentou o diretor administrativo do Ital, Marco Antônio Kucker. Segundo ele, o fenômeno destelhou seis prédios, com possibilidade de ter afetado as lajes, e derrubou 15 árvores.
Como chovia no momento do cisalhamento, os prédios ficaram alagados, inclusive dois edifícios que abrigam laboratórios de pesquisa. De acordo com Brunini, choveu 64,5 milímetros em Campinas entre terça-feira e ontem.
Pelo menos 30% das pesquisas desenvolvidas no Ital ficaram comprometidas, conforme o diretor. "Não houve danos às pesquisas em si, mas elas ficarão comprometidas porque houve perda de espaço físico e equipamentos", explicou. Os prejuízos, entretanto, ainda não haviam sido levantados ontem.
Kucker acrescentou que não há previsão de quanto tempo será necessário para reconstruir as áreas atingidas. No IAC, os prejuízos também não haviam sido levantados ontem, mas falava-se em até R$ 150 mil para reconstruir um dos prédios afetados.
"Trabalhos de vários anos ficaram comprometidos", disse a diretora do Centro de Comunicação, Maria Jussara Rosa Vieira. Segundo ela, os ventos atingiram os prédios da Entomologia, da Virologia e o Quarentenário. Eles abrigam, respectivamente, laboratórios que estudam insetos de plantações, vírus e estufas onde espécies de outras regiões ou países são cultivadas para verificar como se comportam e se poderão disseminar pragas ou doenças.
Os ventos atingiram ainda o Banco Germoplasma de Café do IAC, uma das maiores coleções de espécies do mundo, que reúne vários indivíduos (pés) de 18 espécies cultivadas há 72 anos no local. Algumas árvores foram arrancadas e o mapeamento estava sendo feito ontem.
"Ainda não sabemos qual a dimensão dos estragos ocorridos no banco", disse Maria Jussara.
Criciúma faz mutirão
Criciúma – O mutirão de ajuda aos desabrigados pelos dois tornados que atingiram Criciúma na segunda-feira deve prosseguir até amanhã. Colchões e material de limpeza são os principais itens que faltam para completar os kits que estão sendo entregues às famílias afetadas. Os técnicos da Defesa Civil do município cadastraram até ontem 82 famílias para receberem doações. No Centro Comunitário do Bairro Santa Luzia, 15 kits para bebês e 165 cestas básicas foram distribuídos. A reconstrução das casas destruídas pelos tornados deve começar hoje, com acompanhamento de engenheiros da Companhia de Habitação de Santa Catarina. De acordo com a Defesa Civil, os tornados atingiram 700 pessoas e danificaram cem casas, sendo que três foram totalmente destruídas. O número de atingidos inclui os que ficaram desabrigados e os parentes e amigos que acolheram essas pessoas. Na terça-feira, os moradores de Criciúma tentaram voltar à rotina. Em Vila Manaus, o bairro mais atingido, o maior trabalho era de reconstrução ou recuperação das casas danificadas.
