Vazamento revela fotos do dinheiro para pagar dossiê

Enquanto Hamilton Lacerda, assessor e operador da candidatura de Aloizio Mercadante ao governo do Estado de São Paulo, depunha na manhã de ontem na sede da Polícia Federal (PF), uma fonte entregava ao jornal O Estado de S.Paulo as fotos com as pilhas de reais e dólares apreendidos no dia 15 de setembro, no hotel Ibis, em frente ao aeroporto de Congonhas (SP). O R$ 1,75 milhão (US$ 248,8 mil mais R$ 1,168 milhão) estava com os petistas Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha.

Os dólares e os reais, como mostram as imagens do circuito interno de televisão do hotel, foram entregues a Gedimar e Valdebran por Hamilton Lacerda. O dinheiro era para comprar o chamado dossiê Vedoin, um conjunto de informações em poder do empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia das ambulâncias, e que seria usado contra os tucanos, principalmente o candidato tucano ao governo do Estado de São Paulo, José Serra. O PT pagaria R$ 1,75 milhão a Vedoin. Valdebran, petista, empresário e tesoureiro de campanhas do PT em Mato Grosso, deveria receber o dinheiro e entregar os documentos a Gedimar.

A Polícia Federal escondeu as fotos das pilhas de dinheiro. A PF alegava que a exibição das imagens poderia ser usada pela oposição na campanha eleitoral e prejudicar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Apesar de o ?homem da mala?, segundo as imagens de vídeo, ser Hamilton Lacerda, foi Gedimar, que integrava o comitê da campanha presidencial, em Brasília, quem recebeu o dinheiro. Por causa dessa ?ponte? entre os comitês de Lula e Mercadante é que a PF montou, segundo a oposição, uma verdadeira ?operação tartaruga? em torno das investigações do dossiê Vedoin.

A divulgação das fotos de dinheiro apreendido é uma prática rotineira da Polícia Federal, o que ela fez, por exemplo, na campanha de 2002, quando dinheiro de caixa dois foi apreendido em um escritório da Lunus, a empresa do marido da pré-candidata Roseana Sarney (PFL-MA) – Roseana desistiu de se candidatar depois da divulgação da foto, o que ficou conhecido como ?caso Lunus?.

No caso do dossiê Vedoin, não só a PF escondeu as fotos como levou dias para revelar o que estava nas imagens de vídeo do hotel: que Hamilton Lacerda era o ?homem da mala?. No depoimento à PF, Gedimar escondeu a informação de que recebeu o dinheiro do assessor de Mercadante e inventou a história de que um tal de ?André?, que ele não conheceria, teria sido o carregador do dinheiro.

Inquérito

O superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Geraldo José de Araújo, confirmou que abrirá um inquérito para apurar o vazamento das fotos do dinheiro. ?Infelizmente, temos que admitir que houve vazamento da foto do dinheiro no caso do dossiê?, afirmou. Ele informou que as fotos são autênticas e foram tiradas quinta-feira, durante realização de perícia. As fotos tiradas no dia da apreensão, em 15 de setembro, no hotel Ibis, na capital paulista, estão preservadas e não foram divulgadas. Segundo o superintendente, seis pessoas participaram da perícia e terão de dar esclarecimentos, inclusive o delegado Edmilson Pereira Bruno, a quem é atribuído o vazamento das fotos.

O delegado Edmílson Pereira Bruno negou ter distribuído o CD com fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal à imprensa. Segundo ele, o CD sumiu de seu arquivo pessoal entre quinta-feira à noite e ontem cedo. Ao perceber o sumiço, ele admitiu ter feito ligações para alguns jornalistas para checar se alguém tinha o CD. ?Eventualmente, foi um furto. Eu não sei. Vão apurar. A direção vai apurar tudo isso?, comentou. 

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