O Vaticano divulgou neste sábado, dia 21, a lista completa de participantes do Sínodo da Amazônia, assembleia especial que discutirá temas políticos relacionados ao meio ambiente e assuntos internos da Igreja Católica em Roma, ao longo do mês de outubro. O Brasil tem a maior delegação entre os participantes, 58 bispos da região amazônica, além de outros nomes na cúpula do encontro presidido pelo papa Francisco e que provocaram reações negativas no governo Jair Bolsonaro. O pontífice convidou cientistas, nomes ligados à Organização das Nações Unidas (ONU), representantes de igrejas evangélicas, de ONGs e povos indígenas. A previsão é de mais de 250 participantes.
Os principais nomes brasileiros são o relator-geral do sínodo, cardeal d. Cláudio Hummes, e um dos três presidentes-delegados, o cardeal d. João Braz de Aviz.
Dos oito demais países da região pan-amazônica, as maiores delegações de bispos vêm de Colômbia (15), Bolívia (12), Peru (11), Equador (7), Venezuela (7), Guiana (1), Guiana Francesa (1) e Suriname (1). Ao todo, são 185 “padres sinodais”, clérigos com direito a voto nos temas a serem debatidos na assembleia.
O papa vetou entre os convidados especiais (não-religiosos) militares ou políticos que exerçam mandato, apesar de o governo Bolsonaro ter manifestado interesse em enviar representantes. A lista de 12 personalidades de expressão mundial inclui o climatologista brasileiro Carlos Nobre, cuja participação foi revelada pelo Estado.
Os outros 11 convidados são: o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon; o diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) René Castro Salazar; o presidente da Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), José Gregorio Díaz Mirabal, indígena Koripako da Venezuela; o presidente da ONG francesa Forêt Vierge (Associação Mata Virgem), Jean-Pierre Dutilleux, entidade ligada ao cacique brasileiro Raoni, líder indígena Kayapó; a secretária-geral da aliança católica CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade), Josianne Gauthier; o padre Miguel Heinz, presidente da organização católica alemã Adveniat; o professor Luis Libermann, fundador da Cátedra do Diálogo e Cultura do Encontro, na Argentina; o professor de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia (EUA) Jeffrey D. Sachs; o professor Hans J. Schellnhuber, diretor emérito do Instituto Postdam de Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha; o monsenhor Pirmin Spiegel, diretor-geral da organização alemã Misereor; e a relatora especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Lucia Tauli-Corpuz.
O papa convidou representantes de igrejas evangélicas – cuja presença expansiva na Amazônia é uma das preocupações do sínodo católico. Seis deles estão entre os chamados “delegados fraternos”, sendo quatro brasileiros: o historiador Moab César Carvalho Costa, evangelista da Igreja Assembleia de Deus em Imperatriz (MA); o reverendo Nicolau Nascimento de Paiva, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; e dois nomes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Daniel Dos Santos Lima, membro da Comunidade Anglicana de Manaus (AM), e o reverendo Cláudio Correa de Miranda, vice-coordenador do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs.
Entre auditores e colaboradores do sínodo, o Vaticano convocou dezenas de outros nomes atuantes no Brasil, a maior parte ligada à Igreja, como os padres Justino Sarmento Rezende, especialista em inculturação de espiritualidades indígenas e originário do povo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e Dario Bossi, missionário italiano da Rede Igrejas e Mineração, que atua em Açailândia (MA). Há também nomes de fora da hierarquia católica, como o procurador da República Felício de Araújo Pontes Júnior, especialista em direito das populações indígenas e o linguista Tapi Yawalapiti, cacique que representará 16 tribos do território do Alto Xingu, no Mato Grosso.
O sínodo, que tem na pauta dar mais protagonismo a mulheres na Igreja, terá uma presença significativa delas, mas sem direito a voto. Na delegação que vai a Roma, foram incluídas a professora da Universidade Federal de Roraima Marcia Maria de Oliveira, doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia, especialista em história da Igreja na Amazônia e assessora da Rede Eleclesial Pan-Amazônica (Repam), a coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Judite da Rocha, e a agrônoma Ima Célia Guimarães Vieira, representante da comunidade científica no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ex-diretora e pesquisadora titular do Museu Paraense Emilio Goedi.
O sínodo será encerrado em 27 de outubro, com uma missa do papa Francisco na Basílica de São Pedro. O evento também marcará a canonização de Irmã Dulce. Os resultados do sínodo, que serve como encontro de consulta do papa à Igreja, só serão conhecidos após a exortação apostólica que será proferida pelo pontífice.