A Vale exaltou aos investidores nesta semana que aumentou seus investimentos na gestão de barragens de minério de ferro em 162% nos últimos quatro anos, de 2015 a 2018. Levantamento feito pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, com dados dos resultados trimestrais da empresa, entretanto, indica que os desembolsos totais destacados pela mineradora para manutenção, melhoria e expansão de barragens nesse período, na verdade, são substancialmente menores que os observados nos anos anteriores ao desastre da Samarco, em Mariana (MG).
Segundo os balanços financeiros publicados pela Vale, os aportes da mineradora para manter, melhorar e expandir barragens de rejeitos de minerais ferrosos caíram pela metade, do patamar de US$ 367 milhões em 2014 para US$ 163 milhões em 2017. Os números mostram contração de 55,6%. A mesma tendência é vista quando são considerados os 12 meses encerrados em setembro de 2018, quando a queda chega a 58,9%.
Até 2013, a empresa explicitava os aportes apenas como “expansão de barragens de rejeitos e pilhas de resíduos”, sem mencionar manutenção e melhoria, como nas demonstrações financeiras mais recentes. Apenas para comparação, o montante desta categoria sozinha em 2013 foi de US$ 486 milhões – praticamente três vezes mais o registrado em 2017 na nova categoria, que passou a citar, além das expansões, a manutenção e melhoria das estruturas na área de minerais ferrosos. Ou seja, menos dinheiro para maior número de finalidades.
Desde sexta-feira, dia 1º, o Broadcast tem conversado com a empresa para entender o porcentual dos recursos investidos na manutenção das barragens no decorrer dos anos e escrutinar os investimentos em segurança e manutenção destas operações. Após novo questionamento na terça-feira, dia 5, a Vale publicou horas depois a nota ao mercado em que exalta o crescimento dos investimentos na gestão de barragens, tendo como base 2015, ano que aconteceu o rompimento da barragem em Mariana, da Samarco – mineradora que Vale e BHP dividem o controle.
A empresa, porém, ignorou os gastos em anos anteriores ao rompimento de Mariana, sobretudo em 2014, quando o total destinado à manutenção, expansão e melhorias somou US$ 367 milhões – mais que o dobro do gasto no ano seguinte, quando houve o rompimento em Mariana, que teve US$ 137 milhões.
Quando questionada antes da nota enviada à imprensa, a Vale explicou que a queda entre 2015 e 2016 (conforme gráfico acima, da cifra destinada a manutenção, melhoria e expansão) foi consequência da “execução de grandes projetos de construção de novas barragens, como, por exemplo, a Barragem Norte de Brucutu” – projeto que recebeu cerca de US$ 50 milhões entre 2015 e 2016. “Ao expurgar esse efeito de novos projetos, observa-se que os investimentos nas demais estruturas aumentaram ligeiramente”, defende a empresa, sem dizer se outros projetos de expansão também foram incluídas nesta linha do balanço.
A Vale também argumentou que o avanço de 71% nos investimentos em barragens entre 2016 e 2017 se deu também por causa de novas estruturas, como o projeto Forquilha V, com investimento de US$ 22 milhões naquele ano. “Ao excluir esse efeito, os investimentos em Pilhas e Barragens nas demais estruturas aumentaram R$ 156 milhões (US$ 46 milhões), uma variação de 49%”, apontou a empresa, em nota – também sem escrutinar os números.
Segundo o comunicado enviado à imprensa nesta semana, a gestão de barragens engloba, por exemplo, serviços de manutenção, monitoramento, obras de melhorias, auditorias, análises de riscos, entre outros.
Questionamentos A reportagem procurou a Vale para tentar esclarecer pontos sobre o tema, como o motivo de a empresa considerar, na conta de manutenção, investimentos na construção de novas barragens. Segundo nota da assessoria de imprensa, são contemplados nos investimentos de manutenção (também chamados de investimentos correntes) “as barragens que permitam somente manter capacidade de produção das usinas existentes” – ainda que sejam novas.
Na mesma ocasião, o Broadcast também questionou os valores totais investidos no segmento de barragens de rejeito de minerais ferrosos em 2014 e 2013 – mais elevados do que nos anos posteriores – e se eles englobavam também aportes em novas estruturas. Segundo a empresa, “o desembolso segue o ritmo dos projetos executados”. Sobre o que gerou o crescimento de mais de 40% entre 2016 e 2017, exaltado pela própria empresa, a Vale repetiu que “o desembolso segue o ritmo dos projetos executados”.