H1N1

Vacina não será solução para fim da gripe suína

Na semana em que o Paraná já registra 142 mortes causadas pela gripe A (H1N1), também conhecida como gripe suína, o governo estadual recomendou o afastamento das gestantes das atividades profissionais e estudantis durante dez dias. Do total de 2.480 casos confirmados, 152 são de gestantes, com oito mortes entre as grávidas.

Embora informações oficiais deem conta de que os números de casos, internações e mortes em decorrência da doença têm diminuído, a nova decisão causou dúvidas na população – se foi tomada com base no aumento de casos ou alguma alteração no comportamento do vírus no Estado.

Nesta entrevista, o diretor-geral da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), André Pegorer, responde sobre a recomendação às grávidas, a volta às aulas, avalia o panorama atual da nova gripe no Paraná e como a doença deve evoluir nos próximos meses.

O Estado – Houve novos fatores que levaram o governo estadual a decidir pelo afastamento temporário das gestantes de suas atividades nas próximas duas semanas?

André Pegorer – As grávidas se configuraram como um grupo de risco para a doença e temos tido casos de gestantes internadas. Já emitimos uma primeira recomendação, há uma semana, pedindo para tirá-las da linha de frente do atendimento ao público e a nova medida foi tomada com base em diálogos com a sociedade de ginecologia e obstetrícia, que entende que, de fato, é necessário. É uma medida de excesso de prevenção, não houve agravamento dos casos com relação às gestantes nem mudança do quadro. Ao proteger uma gestante estamos protegendo duas vidas.

OE – Por que a medida exclusivamente para as gestantes nesse momento, e não para as crianças, que já tinham ficado afastadas das aulas durante duas semanas?

AP – O número de casos confirmados, óbitos e internações em crianças é muito baixo. Em gestantes, esses números já são impactantes dentro do conjunto epidemiológico do Estado. A medida de suspensão de aulas, quando foi adotada, definida tecnicamente, não foi puramente para proteger as crianças. Não podemos esquecer das consequências sociais de paralisação das escolas, por exemplo. As duas semanas de suspensão foram muito importantes, mas, por exemplo, a rede pública tem mil alunos em determinado município. Esses mil alunos vão para a escola e comem na escola. Quando não tem aula, parte desses alunos comem em casa, parte desses alunos talvez não tenha comida ou talvez não na mesma quantidade que tem na escola. Então, essa é uma variável que precisa ser considerada. Suspender aulas até que o vírus pare de circular, se fosse só o aspecto sanitário, não interrompe a circulação do vírus, não acaba com o número de casos, mas diminui com o tempo. No entanto, é preciso cuidar do lado social também.

OE – Hoje já se pode dizer que a população está mais tranquila em relação à nova gripe?

AP – As decisões são tomadas, também, com base em aspectos que não o epidemiológico, mas do ponto de vista da segurança da população. Conforme o tempo passa, amplia-se o nível de informação da população e isso faz com que a ansiedade diminua. A população, que no começo recebia as primeiras informações e não sabia exatamente o que estava acontecendo, agora está mais calma com o avanço do quadro e com informação transparente. E essa calma aparece de maneira objetiva, porque diminui a procura pelas unidades de saúde de casos que não são de gripe. Quando o nível de ansiedade está lá em cima, a pessoa pensou em espirrar, está com medo e vai recorrer ao serviço de saúde. Agora não, agora ela sabe qual são os sintomas, o que precisa ser feit,o, sabe como funciona, sabe que tem medicamento e que não precisa sair correndo, desesperada, porque o medicamento está disponível, se for necessário.

OE – A Sesa observa que o pior da doença já passou, pelo menos neste ano?

AP – Do ponto de vista epidemiológico já se começa a observar uma mudança no quadro, mas é uma informação ainda pouco precisa. A gente não tem como, em três dias, ver uma mudança nos números e já declarar que a epidemia diminuiu, mas já se começa, sim, a observar isso, principalmente em Curitiba e região metropolitana, onde o vírus começou a circular primeiro. Então é natural que a diminuição venha primeiro aqui, mas depois se estenda para o Estado como um todo. É cedo para ser categórico e dizer que já estamos numa curva descendente. Mas já há uma percepção nesse sentido, de redução de casos, de busca pelos serviços de saúde, de demanda por medicamento.

OE – Depois de quatro meses do aparecimento da desta gripe, as informações estão mais claras e a Sesa conseguiu atingir a população com dados oficiais, paralelamente à onda de boatos que tomou a internet rapidamente?

AP – O Paraná é o único Estado que tem três boletins por semana, divulgando dados toda segunda, quarta e sexta-feira. É também o único Estado que conseguiu autonomia para, no seu próprio Estado, fazer o diagnóstico laboratorial de seus pacientes. Agora o Rio Grande do Sul está conseguindo fazer isso e vai ser o segundo estado. Isso nos deu agilidade com relação aos dados, nossos números cresceram mais rápido e todos foram divulgados pela agilidade do diagnóstico. Isso tudo para passar segurança de que não tem ninguém aqui escondendo dados. Além da informação clara, é importante ter clareza com relação aos procedimentos, às consequências e à capacidade de atendimento. O Paraná chegou a ter 190 pacientes de gripe internados em leitos de UTI num único dia. E não faltou leito de UTI, não faltou leito nem medicamento. Teve gente que demorou um pouco para receber o remédio, mas o medicamento está agora está em todos os 399 municípios.

OE – Depois de toda preocupação e medo e relação à nova gripe, pode-se dizer que pelo menos a mudança de hábitos de higiene pode ter sido benéfica nesse panorama?

AP – Muito benéfica. É provável que tenhamos diminuição dos casos de outras doenças respiratórias este ano por conta disso. As pessoas estão evitando aglomerações, contatos próximos, os doentes estão ficando em casa. Essa cultura vai ficar, tenho certeza disso, pelo volume e forma com que ela veio. A gente tem hoje crianças chegando em casa e dizendo aos pais que têm que lavar as mãos, que têm que evitar lugares muito cheios e isso é educação para a saúde. Sem dúvida, isso vai ser uma espécie de salto positivo desse processo todo. É o que aconteceu nos países do hemisfério norte, que tiveram um primeiro momento da epidemia, já tiveram uma queda e agora se preparam para uma alta novamente. Inclusive a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, há dois dias, que os países do hemisfério norte precisam se preparar e não podem vir com o discurso de que o pior já passou. O pior pode estar ainda no próximo inverno.

OE – No nosso inverno do próximo ano devemos chegar mais preparados para o enfrentamento da doença tanto as instituições de saúde quanto a população por causa das informações disseminadas e pela vacina, com a qual devemos contar em 2010?

AP – Eu não gosto de colocar a vacina como a tábua de salvação. A vacina vai ser um aliado, mas não é a solução fechada e definitiva para o fim da gripe. Os países do Hemisfério Norte devem começar a utilizá-la nos próximos meses e o Brasil já recebeu material para começar a produzir, pelo Instituto Butantan, que já está produzindo o lote semente (inicial) da vacina. Sem dúvida, a vacina vai se,r um aliado no ano que vem, mas a gente vai ter que continuar tendo medidas de higiene e de informação para que as pessoas evitem aglomerações, por exemplo. Temos uma população de 6 bilhões de pessoas no mundo e esse vírus está em mais de 190 países, portanto em praticamente todo o globo terrestre e não há capacidade industrial de produção para 100% da população. Vão ter que ser definidos os principais grupos de risco, ou seja, não há perspectiva nem no Paraná nem no Brasil nem em lugar nenhum do mundo de que haverá vacinação em massa, para 100% da população.

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