USP fecha curso de Engenharia na zona leste

A Universidade de São Paulo (USP) não terá mais um curso de Engenharia na zona leste da capital paulista. Por decisão da Escola Politécnica, o curso de Engenharia da Computação com ênfase em Sistemas Corporativos, oferecido a partir de 2014 na USP Leste, foi encerrado e as vagas, redistribuídas para outras carreiras oferecidas na Cidade Universitária, na zona oeste.

A chegada da Poli na USP Leste foi comemorada pela direção da unidade e pela comunidade. Mas, na prática, as aulas de Engenharia nunca chegaram à zona leste. Por causa de problemas ambientais, o câmpus foi interditado no primeiro semestre de 2014, quando a primeira turma ingressou. As aulas acabaram sendo dadas na Cidade Universitária e, após a desinterdição, no meio do ano passado, o curso permaneceu na Poli.

No vestibular deste ano, a carreira continuava prevista para a USP Leste. Já no manual do candidato da Fuvest de 2016, ela nem aparece.

O fim da Engenharia na USP Leste foi decidido na última reunião do Conselho Universitário, no dia 23 de junho, mas não foi divulgado. A reitoria e a direção da Poli não informaram o que motivou o cancelamento e se há previsão de a graduação voltar à unidade. O diretor da Poli, José Roberto Castilho Piqueira, informou por e-mail que as vagas serão redistribuídas pelos outros cursos de Engenharia.

Em junho de 2014, ainda durante a interdição da USP Leste, o Departamento de Engenharia da Computação e Sistemas Digitais, ao qual o curso era vinculado, entregou carta à direção da Poli recomendando a não abertura de vagas porque não havia garantia de recursos humanos e infraestrutura. Na época, Piqueira garantiu a continuidade do curso.

Importância

A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), que reúne os cursos da USP Leste, informou que não participou da decisão. “Cremos que seja sempre importante o fortalecimento da USP na zona leste de São Paulo, mas esta decisão não depende da nossa unidade.”

A oferta de um curso público e gratuito de Engenharia na região mais populosa da cidade é uma luta histórica da zona leste. Quando o câmpus foi inaugurada, em 2005, não houve a inserção de cursos tradicionais. Na época, as faculdades não quiseram levar cursos para a unidade e a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi criticada por acelerar a inauguração por causa das eleições de 2006.

Segundo Luis França, do Movimento Nossa Zona Leste, o fim do curso “é uma decepção”. “Ter cursos tradicionais é uma forma de colocar o câmpus dentro do contexto de qualidade da USP”, diz. “Mais uma vez, todos os estudantes da zona leste que sonham fazer Engenharia na USP veem isso mais distante, inclusive geograficamente.”

Estudante do 1.º ano de Engenharia da Computação, João Albanese, de 19 anos, nem chegou a ter aulas na zona leste. “Desde que entrei já havia entre os alunos e professores a percepção de que ficaríamos aqui (na Cidade Universitária)”, afirma.

O aluno Marcelo Fernandes, de 25 anos, diz que, no fim, nada mudou. “Como o curso nunca veio, essa discussão foi feita entre eles. Para a zona leste, a derrota já é antiga”, diz ele, aluno de Gestão de Políticas Públicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Outro lado

Diretor explica que Poli-Leste continua funcionando

O curso de Engenharia de Computação (Sistemas Corporativos) foi criado na gestão anterior da Diretoria da Poli-USP, quando o Prof. José Roberto Cardoso, confiando na administração reitoral da época, aceitou, junto com o Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais, o desafio de levar nossa escola para essa importante região de São Paulo.

Assumi a Diretoria da Poli quando a primeira turma estava ingressando, em meio ao fechamento do Campus-Leste, agravado pela crise financeira da USP. Conforme prometi, na época, o curso teve continuidade em nossas instalações atuais, à custa de um aumento significativo de cargas horárias dos professores da Poli e dos Institutos de Matemática, Física e Química, responsáveis por parte de nossas matérias básicas.

No ano seguinte, correspondente ao ano letivo de 2015, mais uma turma ingressou e cursa a Poli normalmente. Deve-se ressaltar que, entre os 100 ingressantes nos dois anos, apenas um era morador da Zona Leste de São Paulo e a procura pelo curso era baixíssima.

Assim, a Diretoria da Poli propôs à Congregação uma suspensão temporária do curso e redistribuição das vagas, proposta aprovada com ampla maioria de votos. No Conselho Universitário, órgão máximo de decisão na USP, nova aprovação, com ampla maioria. Logo apareceram os incendiários com afirmações irresponsáveis: o curso fechou, a Poli não vai para a USP e Leste e outros discursos oportunistas.

Os fatos: a Poli, associada a um tradicional curso pré-vestibular, está, neste semestre, oferecendo um “cursinho vestibular” com 60 vagas para alunos carentes da Zona Leste, selecionados pelas comunidades locais. Em conjunto com nossa Comissão de Graduação e Superintendência do Espaço Físico, em colaboração direta com comunidades locais (Padre Ticão), estamos reprojetando a Poli-Leste e, certamente, iremos para lá com bons e bem planejados cursos, levando à Zona Leste a centenária qualidade da Poli.

José Roberto Castilho Piqueira, diretor da Escola Politécnica da USP.

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