Brasília – A maioria dos equipamentos esportivos construídos para os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, que custaram cerca de R$ 1,6 bilhão em recursos públicos, ainda tem seu uso social indefinido. A possibilidade de retorno desse investimento para a sociedade na forma de projetos de educação pelo esporte não está descartada, mas, em alguns casos, esse uso das instalações depende ainda de decisões governamentais e as confederações esportivas. A situação é o resultado de um levantamento da Agência Brasil sobre o legado dos jogos junto a representantes do governo federal, governo do Rio e prefeitura municipal, responsáveis pelos investimentos e administração dos equipamentos.
De 17 instalações construídas, cinco são temporárias e os investimentos foram feitos especificamente para o período da competição. Das 12 que são permanentes, em três a relização de projetos sociais dependem de acordos com confederações esportivas. Segundo o presidente do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, professor Fernando Mascarenhas, o maior legado social do Pan-Americano seria a possibilidade de toda a infra-estrutura esportiva construída para a competição pudesse ficar sob a gestão da sociedade civil organizada. "Agora em que medida é possível conseguir isso se toda organização do próprio evento foi pensada no sentido da gestão de negócios. Esse é o limite com o qual a gente se depara", afirma.
A Cidade dos Esportes, onde estão a Arena Olímpica Multiuso, o Parque Aquático Municipal Maria Lenk e o Velódromo, vai ser gerenciada pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SMEL) do Rio de Janeiro. Parcerias com as Confederações Brasileiras de Desportos Aquáticos (CBDA) e de Ciclismo (CBC) estão sendo discutidas, para a gestão do parque aquático e do velódromo, respectivamente.
De acordo com a assessoria da SMEL, o que se espera dessa parceria é que as confederações utilizem a infra-estrutura mantida pelo município para desenvolver programas de inclusão social para crianças e jovens carentes e descobrir e o treinar jovens talentos no esporte. Se tais programas serão desenvolvidos ou não ainda não está decidido. ?O que vai ser feito, como o velódromo vai ser utilizado depende de o acordo ser firmado e ser feita uma reunião com a prefeitura?, afirma o presidente da CBC, José Luiz Vanconcellos.
De acordo com a SMEL as instalações administradas pela prefeitura devem seguir a política do governo municipal para o esporte, que é utilizar os equipamentos para fins sociais, sem deixar de lado o treinamento de atletas de alto rendimento. Isso deve acontecer com a Arena Olímpica, que seria licitada ontem (31), mas não teve propostas, e vai permanecer sob administração municipal, e também com o Centro Esportivo Miécimo da Silva, onde foram realizadas as provas de patinação artística, karatê, squash e judô. A estrutura, que recebeu mais de R$ 2 milhões em investimentos da prefeitura na sua reforma, é o pólo esportivo da Zona Oeste da cidade e uma das nove vilas olímpicas existentes no Rio. Antes do Pan, já eram desenvolvidos projetos sociais ligados ao esporte e também de descoberta de novos atletas no complexo esportivo.
Segundo a Superintendência de Desportos do Rio de Janeiro (Suderj), responsável pela administração do Complexo do Maracanã, parte das instalações do complexo ficarão à disposição da comunidade e de atletas que as utilizarão para treinos e competições. Além de cursos de ginástica, atletismo, vôlei e outras modalidades, os equipamentos poderão abrigar as Olimpíadas Estudantis. Composto pelo Estádio Mário Filho, o Maracanã, o Ginásio Gilberto Cardoso, conhecido como Maracanãzinho, o Centro Aquático Júlio Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de Barros, o complexo recebeu R$ 305 milhões dos governos do estado e federal.
Também poderão abrigar projetos sociais as instalações do Complexo Esportivo de Deodoro, que recebeu R$ 119,8 milhões em investimentos do governo federal e continua sob responsabilidade do Exército Brasileiro. De acordo com a instituição, as instalações estão à disposição das confederações esportivas para a realização de competições e para o fomento do esporte.
O Engenhão, a Vila Pan-americana e parte do Estádio de Remo ficarão com a iniciativa privada. A concessão de uso do Engenhão foi licitada. Uma empresa do clube de futebol Botafogo ficará responsável pela manutenção do estádio durante 20 anos, mediante pagamento de R$ 36 mil por mês para a prefeitura do Rio. A Vila foi construída pela empresa Agenco e é um empreendimento imobiliário privado. Segundo a Secretaria-Executiva do Comitê de Gestão do Pan 2007, os R$ 331,3 milhões foram investidos por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal, em melhorias no entorno da Vila e no direito de uso do local.
No Estádio de Remo, o que ficará com uma empresa privada será o espaço sob a arquibancada do estádio, onde serão construídas salas de cinema e uma praça de alimentação. Uma autorização para explorar o espaço comercialmente foi concedida pela Suderj para a Glen Entertainment Comércio Representações e Participações. O estádio em si será administrado pela Confederação Brasileira de Remo, cuja sede fica no local.