Após um ano da Lei de Cotas, universidades federais começam a reservar vagas para negros e índios também em mestrados e doutorados. Departamentos das Universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Brasília (UnB) desenvolvem políticas afirmativas na pós-graduação por iniciativa de professores e alunos.
A Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ reservará o mínimo de duas vagas aos indígenas. Para negros, haverá nota de corte menor do que de outros concorrentes e adicional de 20% de vagas. Neste ano, nove candidatos já se declararam indígenas e 27, negros. Os primeiros cotistas devem começar em 2014.
O subcoordenador do programa da pós do Museu Nacional, João Pacheco, afirmou não acreditar em piora de qualidade da produção acadêmica. “Não é só fazer justiça social. É uma experiência importante para a área de antropologia, que se propõe a estudar o outro”, afirmou.
Já na UnB, a reserva de 20% das vagas de mestrado e doutorado para negros foi aprovada em julho no Departamento de Sociologia. Uma comissão de professores e alunos tem até o fim de setembro para concluir a proposta, que ainda precisa do aval do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da universidade. A expectativa é de que as cotas comecem a valer no início de 2015. Em Brasília, o curso Pós-Afirmativas ainda prepara negros para o mestrado e doutorado da UnB.
Autonomia
O Ministério da Educação não exige reserva de vagas na pós, mas cada departamento ou instituição pode fixar os critérios nas seleções. Um exemplo é a pós em Direitos Humanos da Universidade de São Paulo (USP), instituição historicamente refratária a cotas. Desde 2006, um terço das vagas no curso é separada para negros, indígenas, pobres e deficientes físicos. Na Universidade Estadual da Bahia (Uneb), 40% das vagas vão para negros e 5% para indígenas em todos os cursos da pós desde 2007.
Apesar de negros e “pardos” corresponderem a mais de 51% da população, só 18,8% dos brasileiros com mestrado pertencem a esse grupo étnico, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já entre os doutores, a proporção recua para 14,6%.
Segundo o especialista em educação Cláudio de Moura Castro, as cotas são injustas. “Na pesquisa, deve prevalecer a meritocracia, em que os candidatos atingem o nível exigido”, afirmou. Conforme o coordenador da organização não governamental (ONG) Educafro, frei David Santos, é preciso abrir mais portas da pós-graduação para excluídos. “A seleção sempre foi cheia de subjetividades. Falta um pacto nacional para resolver o problema”, defende. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.