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Universidade se torna um celeiro de unicórnios

Unicórnio. A figura mitológica do cavalo com um chifre tornou-se sinônimo de startups que valem mais de US$ 1 bilhão. Cada vez que uma empresa brasileira atinge esse patamar, o mercado comemora. Animam-se também jovens estudantes, ainda mais interessados em trilhar o caminho dos empreendedores bem-sucedidos. E inspiração é o que não falta. Na liderança de unicórnios brasileiros, há egressos de instituições tradicionais como a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV).

De olho na vocação e interesse dos novos alunos, essas escolas têm investido em diversificar a grade, com espaço a ideias inovadoras, e atender à demanda de formação para tirar uma empresa do papel. “Temos centenas de startups surgindo na USP. Para incentivar ainda mais, criamos uma trilha de empreendedorismo, com quatro disciplinas focadas em marketing, finanças e recursos humanos, todas pensadas para empreendedores”, diz Moacir de Miranda, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP).

Cinco dos oito unicórnios brasileiros são liderados por pessoas que passaram pelas salas de aula da universidade, mais especificamente nos cursos de Engenharia, Economia e Administração. Aos alunos que já têm uma empresa em andamento, a FEA dá mentoria para que o negócio decole mais rapidamente rumo ao olimpo dos unicórnios. “Auxiliamos no processo de precificação do produto ou serviço. Em um dos casos que acompanhamos, a startup conseguiu faturar três vezes mais após nossa atuação.”

Na FGV, que tem ex-alunos liderando dois unicórnios nacionais, o tema está na ordem do dia. “Antigamente, os alunos se preparavam para trabalhar em grandes empresas, não queriam montar o próprio negócio. Hoje, grande porcentual busca outros caminhos, querem startups, fintechs e instituições não governamentais. Sinto que os alunos buscam um trabalho que tenha propósito, alguma satisfação pessoal que não seja só o salário”, diz Tales Andreassi, vice-diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP).

Por conta própria, os alunos da FGV também se mobilizam. Em 2014, nascia a Liga de Empreendedorismo, com o objetivo de promover a cultura do “faça-você-mesmo”, por meio de mentorias e conversas com figuras de destaque do mercado. Graças à Liga, alunos montaram em 2018 a startup Worc, para auxiliar o processo seletivo de restaurantes. “Trouxemos uma tecnologia que vimos no exterior, com inteligência artificial, e ajudamos a reduzir os trâmites de contratação, que duravam até três semanas, para apenas dois dias”, diz Alex Apter, aluno do 3.º semestre do curso de Administração de Empresas.

Pouco mais de um ano após o lançamento, a startup já atende 40 estabelecimentos em São Paulo e Apter vislumbra crescimento. “Vemos bilhões de reais serem investidos em startups brasileiras. Estamos fazendo rodadas de captação e, sem dúvida, nosso horizonte é também chegar a ser um unicórnio.”

Mais rápido

Se as graduações trabalham de forma extensiva a formação do aluno para atuar nessa nova configuração empresarial, há também opções mais pontuais, como especializações de curta duração, que podem ser ajustadas às necessidades mais urgentes da startup.

Na ESPM, de onde saíram alunos que lideram dois unicórnios brasileiros, a pós para Empreendedores em Negócios Digitais não tem grade fixa. A trajetória de cada participante é definida de acordo com seu perfil e, principalmente, com o projeto.

Foi por essa possibilidade de personalização que Ciça Campos procurou a escola. Hoje no segundo ano, ela conseguiu tornar rentável sua startup, Um Sorvete na Casquinha, que atua na prevenção de transtornos alimentares com a ajuda das redes sociais. “Aprendi a usar melhor as ferramentas como posts patrocinados, além de produção de conteúdo, promoção de eventos e o processo de desenvolvimento de materiais digitais.”

No Insper, o curso Direito em Startups, com 40 horas de duração, se propõe a ajudar o empreendedor nas fases iniciais. “Ao criar a empresa, ele precisa conhecer os prós e contras da escolha de diferentes instrumentos jurídicos para cada uma das situações, como arranjos societários, tecnologias, e aporte de capital de investidores”, diz Rodrigo Amantea, coordenador acadêmico de educação executiva. Afinal, sem entender o ambiente jurídico no qual o negócio está inserido, o caminho rumo ao unicórnio fica ainda mais íngreme.

‘Formação constante ajuda no networking’

Transformações no mercado têm feito com que se desenvolvam novos conceitos para traduzir habilidades necessárias àqueles que desejam garantir espaço nesse novo cenário.

Hoje, dentre os perfis mais buscados está o “profissional T”, letra que simboliza a união do conhecimento amplo e multidisciplinar com aprendizados específicos e técnicos. “Trata-se de um profissional conhecido pela polivalência, mas que também tem suas especificidades. Alguém que é especialista e generalista”, diz Andrea Poleto Oltramari, professora na Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do Observatório Internacional de Carreiras (OIC).

Quem é esse profissional T, que alinha o conhecimento amplo com o específico?

Considerando-se as novas condições do mercado de trabalho, altamente digital, o profissional T apresenta uma característica bem peculiar: está permanentemente em atividade, ligado praticamente 24 horas por dia. Isso se dá tanto por meio das próteses tecnológicas, os smartphones, ou até fora dos ambientes online, porque a mente do profissional T está sempre conectada ao trabalho, preparando reuniões ou antecipando urgências. Mas, nesse cenário, não podemos ignorar a questão da saúde física e mental. A disponibilidade 24 horas tem esse ônus.

A personalidade influencia para que alguém tenha mais condições de ser um profissional T?

Com certeza alguém que tenha mais facilidade de se relacionar, de compreender o semelhante, o outro na relação, vai ter mais condições de ser um profissional T do que alguém individualista. É importante, entretanto, notar um paradoxo: as novas configurações de trabalho motivam justamente o individualismo.

Com relação à formação desse profissional, o que é mais indicado: buscar cursos mais longos, como graduações, ou fazer cursos rápidos de forma constante?

Tem de buscar um pouco de tudo. Entretanto, estar em formação constante traz algo que pode até ajudar mais do que o aprendizado em si, que é a formação do networking. Se uma pessoa está sempre em contato com outras, vai se inserindo, desenvolvendo mais e melhores redes profissionais. Relações informais – aquelas que acontecem no momento do café, no intervalo da aula – podem ser mais eficazes para inserir o profissional no mercado do que mandar currículos por e-mail para um contratador de uma empresa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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