O congolense Santiago (nome fictício), de 25 anos, teve de abandonar a faculdade de Economia às pressas e fugir de seu país. A família sofria ameaças de morte em meio ao conflito político local. Sem alternativas, decidiu seguir o exemplo do irmão, que havia ido estudar no Canadá. Ao pesquisar, descobriu a possibilidade de vir ao Brasil e ter o visto de refugiado. Decolou em 2015, para Roraima.

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“Eu tinha um amigo que me ajudou muito lá até que eu aprendesse o português”, conta. O périplo se estendeu por Brasília, São Paulo – onde trabalhou por nove meses – e o Rio Grande do Sul. Foi lá que descobriu a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que criou um programa de reserva de vagas para refugiados. E assim, finalmente, garantiu a entrada no mesmo curso que fazia, que começou em agosto.

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Histórias como a de Santiago têm se multiplicado no Brasil. O número de universidades que possuem algum tipo de auxílio aos refugiados cresce a cada ano. Ao menos 17 instituições no País, públicas e privadas, integram um grupo liderado pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), com ações que vão de benefícios no vestibular, como cotas, a auxílio financeiro, aulas de português e ajuda com documentações.

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Só neste ano houve três adesões: a Federal de Roraima (UFRR), Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB) e a Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Cenário

Relatório das Nações Unidas obtido pelo Estado e que será divulgado hoje aponta situação dramática na educação de crianças e adolescentes refugiados. Apenas 61% deles têm acesso aos anos iniciais do ensino fundamental, ante 91% das outras crianças. Em países menos desenvolvidos, a taxa cai para 50%. E a quantidade que consegue avançar até as séries equivalentes ao ensino médio brasileiro é ainda menor: 23% – a média global, entre estudantes em geral, é de 84%. Nos países mais pobres, apenas 9% alcançam o ensino médio. Já no ensino superior, o índice é de 1%.

A UFSM, onde Santiago se matriculou, reserva 5% de vagas suplementares em cada um dos cursos para refugiados e migrantes em situação de vulnerabilidade. Esses alunos têm acesso à república estudantil e alimentação gratuita. Só neste primeiro ano da iniciativa, ao menos 50 candidatos tentaram ingresso na instituição por essa modalidade. “No caso deles não é solicitado o vestibular, mas sim o comprovante de refúgio ou, no caso do migrante, da situação socioeconômica”, explica a coordenadora do programa, Giuliana Redin.

Os candidatos também precisam comprovar que concluíram o ensino médio. Além disso, há a possibilidade de solicitar reconhecimento de disciplinas já cursadas no exterior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.