São Paulo – A Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e o Desenvolvimento) quer que os organismos mundiais mais poderosos ligados à produção, comercialização, financiamento e consumo criem mecanismos de compensação financeira para produtores de café, que em apenas seis anos viram os preços despencar cerca de 50% no mercado internacional. A idéia, de acordo com o secretário-geral da Unctad, embaixador Rubens Ricupero, é compensar as perdas de receita dos produtores provocadas pela oscilação dos preços, que decorrem da diversificação e do excesso de oferta, entre outros fatores.
Ele informou que hoje, no encerramento da reunião da Unctad, será lançada uma parceria global para melhorar a situação do café e de todas as outras commodities (agrícolas e minerais). “O objetivo básico da Unctad é criar uma força tarefa internacional de organizações poderosas, como o Banco Mundial, que já manifestou seu apoio, e de outros organismos, como a Organização Mundial do Comércio, que não cuida de commodities, mas tem interesse na matéria, para buscar soluções que, claro, devem variar conforme o caso”, disse Ricupero.
Ele lamentou que os ganhos de produtividade no setor tenham sido quase todos dominados pela cadeia de intermediação (comercialização). “Hoje, a indústria do café, da produção até quem toma o cafezinho, gera US$ 70 bilhões, dos quais apenas US$ 5,5 bilhões vão para o produtor”, afirmou. De acordo com o embaixador, há pouco mais de 20 anos a receita de toda a cadeia mal chegava a US$ 30 bilhões, mas os produtores recebiam US$ 11 bilhões.
“Portanto, vê-se aí quanto se perdeu e como isso não beneficiou o consumidor, que em qualquer lugar do planeta continua a pagar a mesma coisa, ou mais, pelo cafezinho”, disse. Para ele, alguém está se apoderando de grande parte desses recursos. “É para tratar dessas questões e de outras ligadas ao setor que vamos lançar essa força-tarefa que, reconheço, será um trabalho de longo prazo, já que ninguém imagina que será resolvido de um dia para o outro”, afirmou.
