São Paulo – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pretende ressuscitar na 11.ª Reunião Quadrianual da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento) as negociações comerciais sul-sul, com a proposta de um sistema de redução global de tarifas entre os países pobres. O ministro vai lançar oficialmente na quarta-feira uma nova rodada do Sistema Global de Preferências Comerciais (SGPC), mecanismo criado em 1989 para reduzir as tarifas de importação entre países em desenvolvimento. “O SGPC reflete nosso sonho de liberalizar o comércio entre os países em desenvolvimento. Queremos uma nova geografia comercial”, disse Amorim, no Anhembi. “Com o sistema, vamos aumentar nosso poder de barganha nas negociações multilaterais”, disse posteriormente em um discurso para membros do G-77, o grupo dos países mais pobres do mundo.
Segundo Clodoaldo Hugueney, subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, o Brasil quer trazer novos membros para o novo SGPC até o final do ano: “O SGPC tem hoje 44 membros e estamos abrindo para todos os 132 membros do G-77.” O Brasil aposta na adesão da África do Sul e da China, que dariam maior importância ao grupo. Essa é a terceira tentativa de tirar o SGPC do papel. Nas duas anteriores, o sistema previa ofertas e demandas de redução tarifária pelos países. Mas poucos países quiseram fazer ofertas substanciais e a lista de produtos permaneceu muito reduzida. No novo SGPC, o Brasil vai propor uma fórmula para redução geral das tarifas.
Amorim ressaltou a importância da cooperação e unidade entre os países pobres. “Há sempre manobras para tentar dividir os países em desenvolvimento, e por isso é importante mostrar que há muito mais coisas que nos unem do que coisas nos separam”, disse o ministro. Segundo ele, a agenda dos países pobres do G-77 é a agenda do Brasil. “Todos nós queremos o multilateralismo, a defesa de espaço para implementação de políticas nacionais, a cooperação entre países em desenvolvimento e regras mais justas no comércio.
Prioridade ao Mercosul
Buenos Aires – Os empresários do Brasil e da Argentina devem dar prioridade à integração de suas cadeias produtivas dentro do Mercosul para se fortalecerem nas negociações com outros blocos comerciais. Essa foi uma das principais conclusões do seminário organizado pelas consultorias econômicas Centro de Estudos Bonaerense (CEB), argentina, e Prospectiva, brasileira, realizado ontem em Buenos Aires.
O vice-chanceler argentino e secretário de Comércio Internacional, Martín Redrado, que participou do evento, ressaltou que “o Mercosul não vai colocar em risco nenhum setor produtivo em uma negociação externa até que não esteja consolidado internamente”. O secretário admitiu que “estamos parados em um lugar onde existem poucos setores que cumprem com os objetivos principais da integração. Neste aspecto, o Mercosul fracassou”, completou ele.
Durante sua exposição no seminário, ele destacou que o bloco regional não tem cumprido, até o momento, com a expectativa do crescimento potencial esperado. No entanto, o brasileiro Reginaldo Braga Arcuri, diretor da secretaria Técnica do Mercosul, enfatizou que existe “um problema de coordenação macroeconômica e continua havendo muito por fazer no âmbito microeconômico”.
Nações podem expandir comércioSão Paulo – O secretário-geral da Unctad, o embaixador Rubens Ricupero, defendeu ontem uma maior aproximação dos países em desenvolvimento na busca de uma expansão do comércio externo entre essas nações. Ele lembrou, por exemplo, que o comércio bilateral entre Índia e Mercosul pode ser ampliado em até 16 vezes, conforme detectou recente estudo produzido pela Unctad, “com maior conhecimento mútuo e redução de tarifas”.
O embaixador lembrou que a Unctad tem grande interesse no sucesso de novas rodadas de negociação entre os países no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele citou como exemplo as negociações que envolvam o setor de serviços no chamado “modo 4” , ou seja, de ingresso temporário de trabalhadores nos países. Segundo o embaixador, estudos da Unctad indicam que os países em desenvolvimento poderiam receber alguns bilhões de dólares com a maior facilitação desse sistema de concessão de riscos temporários aos trabalhadores.
Ricupero comentou também que, ao participar da abertura do encontro do G-77, grupo dos países mais pobres do mundo, os esforços dos países devem ser direcionados para o desenvolvimento das nações e não somente ficar concentrados nas questões de segurança, caso do terrorismo, proliferação de armas de destruição em massa e genocídio. “Isso não representa a totalidade dos problemas humanos e muitos desses problemas têm a pobreza em suas raízes”, comentou.
O embaixador destacou ainda que é preciso concentrar esforços para o relançamento de negociações comerciais até o momento paralisadas e, mais uma vez, insistiu que temas como o desenvolvimento e a diminuição da pobreza sejam priorizados nesse debate. Por fim, Ricupero insistiu na necessidade de fortalecimento do comércio entre os países em desenvolvimento e que os membros do G-77 se esforcem para diminuir as barreiras comerciais impostas entre si e que favoreçam o potencial de comércio exterior a partir de medidas menos restritivas.