Embora nem sempre signifique vício, o tempo de tela é um alerta para a dependência digital. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foram aplicados questionários a 6.698 usuários do Facebook com perguntas como “Com que frequência você tenta diminuir o tempo que fica na internet e não consegue?”.
O levantamento mostrou que uma em quatro pessoas faz uso abusivo da internet e 4,1% chegaram à dependência – quando trocam a realidade concreta pela virtual e passam a ter desprezo pela vida real. Entre os dependentes, a maioria passa mais de 10 horas conectada.
De acordo com Eduardo Guedes, autor do estudo e pesquisador do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, pessoas de até 18 anos são as que mais fazem uso abusivo ou dependente, puxando para cima as estatísticas sobre vício digital. “Quanto menor a idade, maior a dependência”, diz ele, que também faz parte do Instituto Delete, especializado em detox digital.
Tratamento
Outro núcleo de tratamento, ligado ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), recebe adolescentes e quer expandir o atendimento às crianças. O grupo, que funciona como um Alcoólicos Anônimos da vida digital, faz reuniões de uma hora e meia por 18 semanas. “Tentamos mostrar que existem outras atividades que não a tecnologia”, diz Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do HC.
Segundo Nabuco, o problema atinge todas as idades, mas preocupa ainda mais entre crianças e adolescentes. “Embora essa população possa ter consciência do que seria adequado ou ideal, não tem força biológica para exercer o controle.” Irritação, falta de paciência e frustração quando os eletrônicos são retirados, afirma, são indicativos de que o tempo saudável de uso acabou.
Dicas
1. Tempo. Independentemente do tipo de tela, fique atento ao tempo de exposição de seu filho. “A TV abafa o pensamento consciente porque as imagens se sucedem muito rapidamente. Não dá para pensar em cada uma”, diz Valdemar Setzer, do Departamento de Ciência da Computação da USP.
2. Diretrizes. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até 2 anos não tenham contato com os equipamentos. Para crianças entre 2 e 5 anos, a recomendação é de uso máximo de uma hora diária e, para as maiores de 6, até duas horas. As diretrizes são semelhantes às da Associação Americana de Pediatria.
3. Horário. Mesmo dentro da cota, evite o contato pouco antes do sono ou durante as refeições. A tela dificulta que o cérebro receba estímulos sobre sabor, textura. “E a noção de saciedade fica prejudicada”, diz Liubiana Araújo, da SBP.
4. Tecnologia a seu favor. Para ajudar no controle de tempo, já existem aplicativos que conectam o celular dos pais ao equipamento dos filhos e indicam o número de horas que estão conectados.
5. Participação. Nos momentos de acesso aos equipamentos, esteja junto – o tempo nas telas não precisa ser solitário. Jogar videogame com as crianças ou comentar os filmes amplia as interações, importantes para o desenvolvimento infantil.
6. Dê o exemplo. Pais hiperconectados têm mais dificuldade em propor aos filhos que eles fiquem sem as telas. Experimente se desligar do celular por algumas horas.
7.Zonas livres. Crie em casa áreas sem aparelhos – como o quarto das crianças ou a sala de jantar – e momentos de “detox”. Há famílias que já têm caixinhas, onde deixam os celulares quando chegam do trabalho ou da escola.
8. Sinais de excesso. Caso perceba um uso abusivo, procure ajuda psicológica. Falta de concentração, irritação e impaciência podem ser sinais de excesso. Ligado à USP, o site dependenciadeinternet.com.br reúne mais informações e dicas sobre vício tecnológico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.