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Rio – Três em cada dez idosos brasileiros são responsáveis por mais de 90% do total do rendimento mensal do domicílio, graças, principalmente, a suas aposentadorias. Os dados, divulgados ontem na pesquisa Indicadores Sociais Municipais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que os chamados "arrimos de família" não são os adultos jovens, mas os mais velhos. Em muitos casos, os idosos passam a sustentar a família, tornando-se imprescindíveis na economia familiar.

Embora o IBGE ainda não tenha medido o histórico da participação dos idosos nas finanças do domicílio nas décadas passadas, a economista do instituto Bárbara Cobo Soares diz que, em cenários de alto desemprego e trabalho informal, os rendimentos fixos das aposentadorias ganham peso. Muitas vezes, a aposentadoria dos idosos é a única renda fixa com que a família pode contar, especialmente nas pequenas cidades rurais. "Nos pequenos municípios do interior, as famílias são maiores, há muitos trabalhadores sem remuneração e os idosos têm a garantia da aposentadoria rural", lembra Bárbara. O acesso à aposentadoria para os trabalhadores do campo, mesmo aqueles que nunca contribuíram para a Previdência, foi garantido pela Constituição de 1988 e transformou o perfil da pobreza no País. Pesquisa da professora Sônia Rocha, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que, entre 1981 e 2001, a pobreza entre os idosos caiu de 23% para 6%. Outro levantamento, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontou que a aposentadoria rural foi determinante para reduzir a pobreza da população em geral de 45% para 32%. As pesquisas usam critérios diferentes para medição da pobreza. Sônia Rocha considera o valor da cesta básica e o Ipea trabalha com remuneração mensal per capita. No caso da contribuição dos idosos nas finanças das famílias das grandes cidades, um fator importante, segundo Bárbara, é o fato de ser comum pessoas de 60 anos ou mais receberem aposentadoria, mas continuarem trabalhando. "Nas grandes cidades há mais oportunidades de trabalho remunerado para o idoso, que soma duas rendas", diz a economista.

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Os técnicos do IBGE encontraram cidades como Novo Mundo (MT) e Monte do Carmo (TO), onde mais de 60% dos idosos são imprescindíveis na renda de suas famílias, com contribuição de mais de 90% do total de rendimentos. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, o peso dos idosos nas finanças é maior nos pequenos municípios. Já no Sul, ele cresce nas grandes cidades de mais de 500 mil habitantes.

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Situação no Paraná não foge à regra

O levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre os idosos vai ao encontro com o que foi apresentado na pesquisa sobre a tendência de diminuição populacional divulgada na terça-feira, e que demonstra um declínio dos moradores nos pequenos e médios centros e, conseqüentemente, da força trabalhadora, nesses municípios. Nessa situação, muitas famílias acabam dependendo em grande parte do que o idoso recebe.

No Paraná, os grandes centros, como Curitiba, Maringá, Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu, não fazem parte desses números porque dispõem de uma enorme quantidade de mão-de-obra. Pelo contrário, aquelas regiões com diminuição populacional e que apareceram na última pesquisa do IBGE, como alguns municípios do centro do Estado, na divisa com o Paraguai e um grupo do Norte, na divisa com São Paulo, também apresentam a participação do idoso na renda familiar. A exceção fica por conta dos trabalhadores dos municípios que apresentam alternativas de emprego, como pequenas indústrias, agricultura e comércio.

De acordo com o chefe do IBGE no Paraná, Sinval Dias dos Santos, essa é uma tendência natural, pois a concentração de mão-de-obra e de oportunidades de emprego se encontram nos grandes centros. Nos pequenos municípios em geral, a quantidade de idosos se torna maior e as vagas para trabalho diminuem. Tanto no Estado quanto em todo o País, isso é verificado nas cidades que apresentaram pequeno crescimento populacional. Em 27,2% dos municípios brasileiros, a população encolheu e, paralelamente, os trabalhadores também diminuíram, influenciando no resultado.

Segundo o estudo, nos grandes centros urbanos, o número de aposentados é de 59,8% e o número de pensionistas de 13,9%. No entanto, nos pequenos e médios municípios, o número de aposentados salta para 76,9% e os pensionistas somam somente 7,4%. "Nesses casos, os aposentados concentram grande parte da renda dos municípios e são responsáveis pela manutenção de uma residência, por exemplo. Nas grandes cidades, o panorama é diferente", disse o chefe do IBGE. "É uma série de fatores que influenciam os números apresentados. Programas de assistência ao trabalhador rural, ou fundo de assistência e previdência ao trabalhador rural desenvolvidos na década de 90 favoreceram o resultado desse estudo", afirmou Sinval. Além disso, outros indicadores sociais levados em conta pelo instituto refletem a diferença entre os grandes centros urbanos e os pequenos e médios municípios, como saneamento básico, analfabetismo, defasagem escolar. (Rubens Chueire Júnior)