A chance de virar morador por um dia (ou talvez mais de um) tem atraído curiosos que agora não precisam mais admirar prédios icônicos só à distância. Em São Paulo, tem aumentado a procura por hospedagem em edifícios residenciais históricos. Além de turistas, a opção atrai até quem já mora na cidade.
“A gente é muito apaixonada pelo centro. Queria um lugar que fizesse parte da nossa história”, conta a técnica de edificações Thalita Porto, de 24 anos, que escolheu o edifício Copan, no centro, para a noite em que pediu em casamento a bancária Priscila Ferreira, de 25. Ambas vivem na zona leste. “Estar naquele prédio, com aquele desenho, teve simbologia diferente. Você sente o prédio, faz parte da sua história.”
O casal ficou em um dos pelo menos 23 apartamentos com aluguel de temporada no Copan, geralmente reservados pelo site Airbnb. Anfitriões destacam, nos anúncios, os nomes do prédio e do arquiteto (Oscar Niemeyer), o que não costuma ocorrer. “Que tal ficar em um cartão-postal de São Paulo?”, descreve um anunciante.
A jornalista Renata Gallo, de 40 anos, teve uma “Copan experience” com o marido e as filhas de 10 e de 6 anos, em janeiro. “Sempre gostei de viajar, mas não em roteiros muito tradicionais. Nesse começo do ano, a gente teve vontade de explorar mais o centro.” Após duas negativas de anfitriões, que não aceitavam crianças, reservou um apartamento por três dias. Lá, a família conversou com funcionários e moradores. “É um programa cultural: ir e vivenciar uma cidade diferente.”
O diretor de escola de samba Judson Sales, de 35 anos, começou a alugar um apartamento por temporada no Copan há 3 anos. Sozinho não deu conta da demanda e convenceu vizinhos a aderirem. Hoje é responsável por 10 apartamentos. Segundo ele, 40% dos hóspedes são de São Paulo. “Já teve gente que morava na (Avenida) Paulista, a 15 minutos”, conta ele, responsável também por dois apartamentos no também histórico Palacete Riachuelo. Em geral, o público tem menos de 40 anos. Paulistanos se hospedam principalmente no fim de semana e um terço dos hóspedes é estrangeiro. “90% vêm ao Brasil sabendo do Copan, graças à fama internacional do Niemeyer.”
Outros imóveis do arquiteto na região também atraem hóspedes como o edifício Eiffel, em frente à Praça da República, e o Montreal, primeiro de Niemeyer em São Paulo. Prédios do construtor Artacho Jurado também chamam a atenção, como o Viadutos (conhecido pelo salão com vista de 360 graus para o centro) e o Cinderela, em Higienópolis, além do Esther, dos arquitetos Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho.
Há, ainda, exemplares icônicos que atraem por outras características, como um anexo junto à Casa Bola, no Jardim Europa. Embora seja construído junto à residência, conhecida pelo formato esférico, localização e preço pesam na escolha dos hóspedes, diz o arquiteto Eduardo Longo, dono e autor do projeto.
Germaine
Depois do Copan, o prédio histórico com mais apartamentos com aluguel do tipo é o Germaine Burchard, conhecido pelo formato curvo e detalhes rosados. Dos anos 1930, é apontado como o primeiro prédio de flats da cidade.
O advogado mineiro Marcelo Amorelli, de 43 anos, já se hospedou tanto no Germaine quanto no Esther e no Viadutos. “Mantenho apartamento em São Paulo, mas ocasionalmente deixo de ficar no meu para experimentar prédios históricos da cidade.” Interessado por arquitetura, já havia lido sobre os imóveis em livros. “Dá vontade de ver um pouquinho como moram essas pessoas, como são mantidos, até para pensar um contraponto com os imóveis de hoje.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.