Antonio Cruz / ABr |
Rebelo coloca seu voto na urna, no segundo turno. Eleição disputada |
Brasília – O empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as promessas de liberação de verbas para emendas de parlamentares aliados surtiram o efeito desejado pelo governo na eleição para presidente da Câmara. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-ministro da Coordenação Política, foi eleito em segundo turno para dirigir a Casa num mandato-tampão até fevereiro de 2007. O candidato do governo obteve 258 votos contra 243 dados ao candidato apoiado pela oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Houve seis em branco e dois nulos. Foram 509 votos registrados (ao todo, na Câmara, são 513 deputados). No primeiro turno, Aldo e Nonô haviam empatado com 182 votos.
A disputa foi acirrada e a vantagem de votos de Aldo, durante toda a apuração, nunca foi grande. E às 21h chegou a estar empatada em 213 votos para cada um. O equilíbrio era tanto que a cada voto cantado a favor de Aldo os governistas festejavam com gritos e braços erguidos, como se fossem gols numa partida de futebol. Quando Aldo atingiu os 251 votos, mínimo necessário para a vitória, os parlamentares da base do governo o levantaram da cadeira e comemoraram. Logo em seguida, Nonô foi até o adversário para cumprimentá-lo.
O PP, partido do presidente anterior da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), cassado sob suspeita de corrupção, e o PTB de Roberto Jeffersn (RJ), que também perdeu o mandato, por envolvimento no mensalão, prometeram apoio a Aldo. Entre os dois turnos de votação, após reunião com a bancada, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), anunciou que o partido tinha fechado com a candidatura de Aldo. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que obteve 76 votos e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também fez questão de declarar apoio ao candidato do governo. ?A bancada decidiu e eu sou um homem de partido. Vou declarar meu apoio a Aldo. Existem divergências, mas elas são menores?, afirmou. Em seguida, indagado se o governo fizera alguma oferta em troca do apoio, Ciro respondeu: ?A mim não fez, que eu saiba, não?.
O PTB, outro partido da base do governo que a oposição tinha esperança de atrair, demonstrou, antes do segundo turno, seu apoio a Aldo. Boa parte dos 41 votos recebidos por Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) no primeiro turno devem ter migrado para o candidato governista. Em votação informal realizada na bancada do partido, 36 dos 40 deputados presentes deram seus votos para o deputado do PCdoB.
Para garantir a eleição de Aldo, o Palácio do Planalto contou com a participação efetiva do ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que conversou por telefone com Fleury e Ciro Nogueira. O governo destacou também os ministros das Cidades, Márcio Fortes de Almeida, da cota do PP, e do Turismo, Walfrido Mares Guia, do PTB, para garantir o maior número de votos de suas respectivas bancadas. Antes do resultado final do primeiro turno, a oposição também tentou buscar o apoio dos adversários. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e Nonô foram ao gabinete de Ciro antes mesmo do fim da contagem.
Dividida
O resultado da eleição para presidente da Câmara mostrou um plenário inteiramente dividido. O significado desse quadro é o de aumento da radicalização política. A base desse raciocínio é de que o governo lançou mão dos mesmos métodos que deram origem ao escândalo político em curso para promover a conquista da presidência da Casa.
Segundo um alto dirigente da oposição, o fato de o Palácio do Planalto ter interferido, ostensivamente, no processo eleitoral da Câmara será fortemente questionado.
Jornalista, comunista e discreto
Brasília – Ex-ministro da Coordenação Política do governo Lula, o jornalista Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ingressou na vida política em 1976, quando foi secretário-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE). Desde então, foi vereador e por quatro vezes deputado federal pelo PCdoB. Antes, esteve filiado por cinco anos ao PMDB.
Aos 45 anos, Aldo concorre à presidência da Câmara como candidato do governo, com o apoio do seu partido, do PT, do PSB e do PL. Na última eleição, o ex-deputado Severino Cavalcanti derrotou em segundo turno o candidato do governo Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) por 300 a 195 votos.
Aldo Rebelo foi presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Nike/Confederação Brasileira de Futebol, que concluiu os trabalhos em 2001 e discutiu a estrutura das entidades do futebol e a legislação para contratação dos jogadores. O deputado é também um dos que criticam o uso excessivo de palavras estrangeiras na língua portuguesa. Em 1999, foi autor do projeto que pretende regular o uso dos ?estrangeirismos?.
Em 2003, tornou-se líder do governo Lula e relatou o projeto de Lei de Biossegurança. Outros projetos de sua autoria tratam da inclusão de adolescentes com faixa etária dos 12 aos 18 anos no Programa de Proteção à Testemunha e a obrigatoriedade do exame prévio do material genético para a cremação de cadáveres. Sua proposta mais recente institui o dia 31 de outubro como o Dia do Saci.