A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) teria promovido uma rede de raptos de crianças com base em Lisboa. As revelações começarão a ser publicadas a partir desta segunda-feira, 11, pela emissora de televisão portuguesa TVI. O Ministério Público em Portugal abriu um inquérito interno para apurar as denúncias e o Ministério de Segurança Social do país também estaria avaliando o caso.

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De acordo com a investigação da jornalista Alexandra Borges, que durou sete meses e consultou mais de 10 mil documentos, o centro do esquema seria um lar ilegal que a Universal manteve em Lisboa nos anos 1990. Dali, teriam desaparecidos várias crianças e adolescentes roubados de suas mães.

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“As crianças eram entregues diretamente no lar, à margem dos tribunais, por famílias em dificuldades e acabavam no exterior, adotadas, de forma irregular, por bispos e pastores da igreja”, revela a reportagem. As crianças, então, seriam colocadas à adoção e escolhidas por meio de fotos.

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A reportagem mostrará como, em um primeiro momento, o lar recebia crianças de mães em dificuldades. Elas, porém, eram autorizadas a visitar seus filhos, mas, ao longo do meses, eram afastadas e desvinculadas das crianças. Algumas dessas mães chegaram a ir aos tribunais para tentar reaver os filhos, sem sucesso.

Agora, as mães dessas crianças falam pela primeira vez sobre como ocorreram o que elas chamam de raptos. Pessoas que também estavam na Universal há 20 anos aceitaram ainda entregar documentos e agendas que, segundo a reportagem, apontariam para um esquema montado em Lisboa.

“Estas mães literalmente foram roubadas no que diz respeito aos seus filhos, de quem não sabiam há mais de 20 anos”, explicou Alexandra. “Esta investigação só foi possível ser conhecida 20 anos depois. Agora, algumas pessoas saíram da igreja, começaram a ver com distanciamento e guardaram, inclusive, documentação original daquela altura. É uma história muito grave”, disse a repórter.

A equipe revela que estava apurando uma outra história quando, em meio às informações colhidas, esbarrou nos relatos sobre o envolvimento dos bispos.

“O Segredo dos Deus” será transmitido a partir desta segunda-feira, em um total de dez episódios.

‘Campanha difamatória’

Em nota, a Igreja Universal afirmou que as reportagens promovem “uma campanha difamatória, mentirosa”. “Não podemos tolerar”, declarou. Segundo o texto, as informações obtidas pela televisão portuguesa se baseiam em depoimentos de um ex-pastor, que teria deixado a igreja no Brasil por “condutas impróprias”. De acordo com a Universal, ele deixou de colaborar com a igreja no fim de 2013, “por acordo voluntário das partes”.

A Universal também informou que o seu escritório central já foi contatado e que “os seus membros, em Portugal e fora do país europeu, apresentarão inúmeras ações contra TVI em Portugal e no exterior”. Segundo a nota, as adoções em Portugal “foram decretadas pelo Tribunal de Família e Menores de Lisboa (capital portuguesa)”.

“As crianças foram encaminhadas pela Segurança Social e pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa para um lar – que evidentemente à época não era ilegal -, e vários pais adotivos se candidataram a adotá-las”, alegou a nota.

“Contam-se pelos dedos de uma mão as crianças que foram adotadas por essa via – com decisão judicial, sublinhe-se – por casais ligados à Universal.”