Com causa indefinida até o momento, um vazamento de petróleo cru compromete mais de 1.500 quilômetros do litoral do Nordeste. A lista de locais atingidos pela substância química não para de crescer e nesta quinta-feira, 26, espalhava-se por pelo menos 45 praias e 99 pontos nos Estados de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
As primeiras manchas foram identificadas no dia 2 de setembro. Desde então, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Marinha do Brasil investigam a situação. Até o momento, o consenso dos órgãos ambientais é de que o problema tenha sido causado por uma embarcação no alto mar, mas a origem do vazamento não foi localizada.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a substância se trata de hidrocarboneto, conhecido popularmente como piche. O órgão está recolhendo amostras para identificar o responsável pelo vazamento.
A Marinha enviou material para o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, no Rio de Janeiro, mas não havia resultados até esta quinta-feira.
Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o vazamento não parece ser muito antigo, por causa da consistência do piche.
“Pela proporção, parece um acidente grande, com milhares de quilômetros e não tem caráter de lavagem de tanque, parece um acidente com transporte ou produção”, afirmou a professora da UFPE. “Vamos conviver com a perda ambiental durante décadas, porque o combate à poluição no mar tem que ser acudido rapidamente, não em semanas ou dias.”
A pesquisadora explicou que a limpeza do óleo é diferente em cada área atingida e que existe tecnologia para reduzir o problema. “Mas não tem como voltar a ser como era. O responsável vai ter que se comprometer com décadas e décadas de prejuízo”, disse Mônica.
Oito tartarugas e uma ave atingidas pelo derramamento de petróleo foram encontradas, mas a maioria estava morta e não conseguiu ser atendida pelos técnicos. O Ibama confirma que, por enquanto, não há contaminação de peixes e crustáceos ao longo do litoral nordestino.
Cartões-postais
O óleo mancha cartões-postais do Nordeste, como a Praia do Futuro, no Ceará, e Maragogi, em Alagoas, e deixa o setor turístico da região em alerta. “Como você vai atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?”, lamentou o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira. “O turista é atraído principalmente pelo litoral do Nordeste. Apesar de outros atrativos, o sol e a praia são os mais fortes. Certamente acontecerão cancelamentos de viagens”, disse.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) recomendou que a coleta do produto seja feita com ferramentas específicas para evitar contato direto com banhistas.
A medida é “preventiva contra irritações e processos alérgicos”, indica o documento sobre o piche, que provoca reações adversas no corpo, especialmente na superfície da mão, nos olhos e na boca.
Para a professora Mônica Costa, a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até conseguirem informações mais complexas sobre a substância. A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas, diz ela.
A Petrobras descartou a hipótese de a substância ter sido produzida ou comercializada pela companhia, mas afirmou que está cooperando para a limpeza das praias. Em nota, o Ibama disse que mais de 100 pessoas trabalham na limpeza das praias durante a semana.