Foto: Aliocha Mauricio

 Candidatos à presidência do PT nacional debatem propostas

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Embora conte com quase 60 mil filiados no Estado, o PT não faz estimativas muito otimistas quanto ao comparecimento ao PED – Processo de Eleições Diretas – que acontece hoje em todo o país, das 9h às 17h. Tanto o atual presidente estadual e candidato à reeleição, deputado André Vargas, quanto seu concorrente da chapa "Movimento Paraná", o ex-prefeito João Ivo Callef, prevêm algo em torno de 20 mil votantes nos 342 municípios aptos a participar da eleição, o que ainda é avaliado como um número altamente representativo em relação a uma militância atingida pela maior crise do partido em seus 25 anos de existência.

O ex-prefeito de Maringá, Ivo Callef, demonstra confiança após percorrer o Estado realizando reuniões com filiados: "Está claro que as bases desejam mudanças, e que essas mudanças é que vão garantir a recuperação do PT como um partido forte, ético e voltado às transformações sociais. A base quer dar um novo rumo ao partido, e isto vai nos levar ao segundo turno", acredita ele, que vai passar o dia acompanhando o processo de votação em Maringá e cidades próximas.

Como a contagem de votos será feita manualmente nos municípios e os resultados enviados ao sistema de informatização centralizado em São Paulo, o anúncio dos boletins oficiais deve começar por volta das 22h. O diretório estadual também receberá as informações dos municípios e poderá fazer seu próprio acompanhamento.

Confronto

Concorrem à presidência do diretório estadual, além do atual presidente André Vargas (chapa "Construindo um novo Brasil"), e do ex-prefeito Ivo Callef, que tem o apoio do secretário estadual do Trabalho padre Roque Zimermann, o deputado federal Dr. Rosinha (chapa "Coragem de Mudar"), da tendência Democracia Socialista, que apóia a candidatura de Raul Pont para o diretório nacional; o deputado estadual Tadeu Veneri (chapa "Mudanças Já"), independente e partidário da candidatura de Plínio de Arruda Sampaio para o lugar de Tarso Genro; o vereador de Cascavel Adherbal Mello (chapa "Sempre na Luta"), e o professor da rede pública de ensino, Alfeu Capelari, o "Cafuringa" (chapa "Terra, Trabalho, Soberania"), da tendencia O Trabalho.

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O grande alvo dos questionamentos da chamada ala esquerda ao longo da campanha foi Vargas, justamente por pertencer ao Campo Majoritário, responsabilizado pelo afastamento do partido de suas teses populares e dos programas de transformação social que justificaram a criação da legenda. A exceção de Adherbal Mello, irmão do ex-prefeito de Ponta Grossa, Péricles Holleben de Mello, os demais candidatos decidiram se unir num eventual segundo turno para enfrentar a direção atual, e lançaram um manifesto no início da semana formalizando esse compromisso.

Vargas, que tem o apoio do ministro Paulo Bernardo, do prefeito de Londrina Nedson Micheletti, do presidente da Binacional Itaipu Jorge Samek, e do deputado estadual Angelo Vanhoni, se defende das críticas lembrando que o PT paranaense cresceu durante sua gestão de 150 municípios para 391. Tinha dois deputados federais, hoje tem seis; Tinha quatro deputados estaduais, subiu para nove; elegeu senador, 29 prefeitos e 255 vereadores: "Queremos construir uma candidatura própria a governador através dos nossos companheiros Flávio Arns, Jorge Samek ou Paulo Bernardo, e uma chapa de candidatos a deputado estadual e federal. Não vemos a mesma condição nos nossos adversários.

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Vamos lançar 80% dos candidatos. O outro projeto é continuar organizando os diretórios e preparando o partido para a reeleição do Lula, a quem apoiamos integralmente". Quanto às alianças político-eleitorais patrocinadas durante sua gestão, argumenta que "o partido se alia a outros partidos para construir uma sociedade nova, sabendo que não pode construí-la sozinho. Se nós seguirmos o caminho que nossos companheiros estão propondo, teremos dificuldade em ganhar eleições e de governar municípios, estados e o próprio país. Na prática, o discurso deles inviabiliza eleitoralmente o PT e o torna pequeno", rebate.

Partido chega ao limite da ruptura

As eleições para a renovação dos diretórios do Partido dos Trabalhadores envolvem em todo o Brasil números expressivos. São 825.449 militantes aptos a votar, em 4.638 municípios, o que representa 87% das cidades brasileiras. O número de candidatos a presidente de diretório chega a 4.071, sendo sete candidatos ao diretório nacional (representando várias tendências ou agrupamento de tendências, como o Campo Majoritário, que controla o partido), 116 candidatos aos diretórios estaduais, 3.595 candidatos aos diretórios municipais e 353 aos diretórios zonais. O número de candidatos nas chapas também atinge cifras relevantes: 90.229, dos quais 965 nacionais, 8.611 estaduais, 74.820 municipais e 5.833 zonais. Estão inscritas 4.103 chapas, 10 nacionais, 137 estaduais, 3.554 munipais e 353 zonais.

Tudo isto seria suficiente para fazer do evento de hoje uma das maiores demonstrações de força política de um partido que está no poder, mas não é bem assim que as coisas estão ocorrendo. O jornal londrino Financial Times publicou na edição de ontem uma reportagem em que revela o que acontece com o PT hoje: "tensão no partido de Lula atinge limite da ruptura". E é isto que acontece com o maior partido de esquerda das Américas. "Pouco menos de três anos após o seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, ter se tornado o presidente do Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) tem sido sepultado por acusações de corrupção", diz o FT.

E quem resume este espírito é o próprio presidente do partido, Tarso Genro, que sucedeu a José Genoino, afastado pelo furacão da crise que abalou o PT e o governo. "O povo está realmente de saco cheio", disse Tarso Genro. "O clima entre os militantes é realmente ruim. Muita gente acha que foi traída", diz ele. E quem acha que foi traído quer tirar os "traidores" do comando do partido. Mas os "traidores" não querem sair, em parte porque muitos acham que não erraram. Este é o impasse que aproxima o PT do limite da ruptura.

O número de militantes que pensam em deixar o partido ou enrolar as suas bandeiras, é grande. E, como não bastasse, começa a se visualizar à esquerda uma nova alternativa parecida com o PT de um quarto de século atrás, que é o Psol, da senadora Heloísa Helena. Se pelo menos a crise política alimentada pelas denúncias de corrupção arrefecesse, ou fosse explicada, haveria luz no fim do túnel. Mas a crise está firme. (Edilson Pereira)