Triplicou o número de crianças vítimas de abuso sexual levadas a atendimento em unidades de apoio comunitário nas zonas sul e leste de São Paulo. De outubro para cá, a média de novos casos passou de dez por mês para um por dia, informa a pedagoga Ana Cristina Silva, coordenadora da Rede Criança de Combate à Violência Doméstica, organização que atua há dez anos nas duas regiões, em parceria com a Prefeitura e o governo federal.
Chama a atenção também o aumento de casos envolvendo crianças mais novas. “Costumamos atender a vítimas na faixa dos 7 aos 14 anos, mas têm aparecido muitas vítimas de 2 ou 3 anos”, observa Maria José de Morais, que lidera a unidade de Aricanduva. Outra novidade desconcertante: pais biológicos são maioria entre agressores e, agora, avós também começam a aparecer nesse grupo. O quadro reflete um número maior de pessoas dispostas a denunciar abusos e procurar ajuda, não necessariamente um aumento no número de vítimas. Quanto a isso, não há indicação estatística.
O aumento de registros se deve, segundo a coordenadora, ao fato de haver hoje mais informação a respeito do abuso na mídia e em escolas e unidades de saúde. Entre os abusadores, de todas as idades, há muitos que agem pela conveniência da oportunidade, há os que se consideram no direito de fazer uso dos filhos para seu prazer e há os pedófilos, que sentem desejo sexual por crianças. Nem sempre, porém, é possível reunir provas para prender um abusador. “É difícil comprovar a prática de bolinação”, diz Maria José. Uns poucos agressores confessam. Ainda assim, a Rede Criança atende hoje a 57 abusadores e suspeitos, muitos forçados por ordem judicial.