Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva esta semana. Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.
O objetivo da expedição, comandada pelo indigenista Rieli Franciscato, é catalogar os vestígios deixados na mata pelo suposto grupo isolado para embasar uma possível demarcação de terras. De acordo com os relatos dos katukinas, o contato visual e verbal com os isolados foi feito a sudeste dos limites da Terra Indígena Rio Biá.
A área do contato, entre os Rios Jutaí e Juruá, é transitada por não-índios. Está a 150 quilômetros da cidade de Carauari e perto de uma pista de pouso clandestina, possivelmente usada por traficantes de drogas.
Para delimitar o percurso de expedição, a Frente Etnoambiental percorreu três aldeias katukinas – Boca do Biá, Janela e Bacuri – em um período de três dias para colher depoimentos. A informação inicial nas comunidades ribeirinhas era de que um isolado teria raptado uma mulher da aldeia Janela, chamada Luana.
A história tinha contornos fantasiosos, já que katukinas diziam que o rapto teria durado só um dia. O marido, cujo nome seria Mariano, teria ido buscar a mulher sozinho e desarmado, o que parecia inverossímil.
O rapto, porém, foi confirmado por todos os índios com quem a equipe da Frente Etnoambiental conversou. A mulher raptada e o marido não foram localizados, mas novas histórias sobre os isolados começaram a surgir, bem detalhadas.
Segundo o katukina Carnaval, que mora na aldeia Bacuri, a 40 quilômetros da cidade de Carauari, os isolados caçam em um igarapé próximo. Carnaval afirmou ter encontrado quebradas e varadouros, vestígios comuns de presença indígena, até fazer contato direto com o grupo desconhecido.
Nus, de baixa estatura, com cabelos longos e pintados com urucum, os isolados não teriam sido agressivos e tentaram fazer contato verbal. Eles possivelmente falam katukina. “Deu para entender tudinho”, afirmou Carnaval.