Brasília
– Três assuntos irritam profundamente o presidenciável Ciro Gomes, do PPS: sua relação com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), a acusação de que teria cometido ato de racismo ao negar a palavra a um estudante negro da Universidade de Brasília e a falta de credibilidade no meio empresarial. É só tocar num tema desses que Ciro Gomes perde a compostura. O candidato pode até tentar livrar-se da suspeita de racismo e procurar a simpatia dos empresários, cada vez mais assustados com ele. No entanto, o carimbo de ACM ficou.Para a ligação com ACM, no entanto, o candidato nunca terá uma explicação. Está registrado que beijou a mão de ACM depois de qualificá-lo de “mais sujo do que pau de galinheiro”. Esse tipo de marca não sai. A sigla ACM também vai acompanhar Ciro durante a campanha eleitoral. No início do mês, ao chegar à Bahia e ser recebido por ACM, Ciro agradeceu o apoio do principal cabo eleitoral do Estado e disse que nem sabia o nome da coligação do ex-senador.
O ex-senador Antonio Carlos Magalhães respondeu: “Chama-se ACM.” Ciro mostrou-se surpreso: “ACM?” Antonio Carlos: “É, ACM.” O senador Paulo Souto socorreu Ciro: “Ação, Competência, Maioridade.” O governador Otto Alencar, do PFL, emendou: “Aqui somos o PCB.” Mais uma surpresa para Ciro, porque o seu PPS é o sucessor do velho Partidão, o PCB. De novo, veio a explicação: “Partido dos Carlistas da Bahia.”
A questão do racismo não ficará em branco. A candidata à vice-Presidência pelo PSTU, Dayse Oliveira – primeira candidata negra à vice-presidência na história política do País – criticou ontem a postura de Ciro Gomes, em relação ao episódio recente que envolveu o estudante negro Rafael dos Santos. No dia 7 de agosto, durante debate na Universidade de Brasília (UnB), Rafael tentou fazer uma pergunta e ouviu de Ciro: “Não dá o microfone para ele. Ninguém falou no microfone. Só por que ele é um negro lindo vai falar no microfone? Isso é demagogia, isso é o que discrimina o negro. Só porque é negro, fica com peninha e dá o microfone?”, disse o candidato do PPS. Rafael deu o troco. Repetiu uma frase que Ciro detesta ouvir: “Ele é direita disfarçada”.
Dayse disse que Ciro usou “de sua costumeira truculência e arrogância para impedir que Rafael se pronunciasse em favor das cotas para negros e negras”. Para ela, Ciro assumiu uma atitude “típica da oligarquia que representa”. “Ao tentar calar Rafael, Ciro adotou uma postura que é exemplar do menosprezo racista com o qual as elites têm tratado a questão racial neste país”, diz Dayse. Ela classifica a atitude do presidenciável de “racista”.