Três casas desabaram ontem à noite de um barranco na beira de um córrego em uma favela na Vila Curuçá, zona leste de São Paulo. Segundo os moradores da vizinhança, oito residências das imediações que correm risco de desmoronamento foram interditadas. Ninguém ficou ferido.

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Os desabamentos aconteceram depois de um dia de chuvas na região. As famílias moradoras das casas que caíram não estavam nos imóveis na hora do acidente. O primeiro desabamento foi por volta das 18 horas. No momento, o morador estava trabalhando. Perto das 23h30, as outras duas residências desabaram. Naquela hora, os moradores visitavam familiares.

A dona de casa Marilene Vieira do Santos, de 47 anos, havia saído com o filho de 4 anos. Ela foi visitar o filho mais velho, que mora no mesmo bairro. O marido de Marilene é vigia e estava trabalhando. “Quando estava voltando encontrei um vizinho e ele me contou o que tinha acontecido”, disse.

Marilene tem o hábito diário de visitar o filho mais velho. “Foi isso que salvou o meu menino de 4 anos e me salvou.” Ela disse que aguardará um posicionamento da Prefeitura para então decidir onde ficará. “Mas não vou aceitar ir para um abrigo”, adiantou.

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Possível causa

O descaso depois da demolição de cerca de dez barracos feita há pouco mais de um mês pela Subprefeitura do Itaim Paulista foi apontada pelos moradores da vizinhança como a causa dos desabamentos ocorridos ontem. “A Prefeitura veio aqui, derrubou tudo isso e largou aí. Junto com o entulho, ficaram até móveis que o pessoal não conseguiu levar. Isso represou a água do córrego e deu uma infiltração por baixo. Acabou desbarrancando tudo”, avaliou o balconista João José Martins, de 40 anos, morador de uma das casas que foram interditadas. Segundo ele, a Subprefeitura pretendia canalizar o córrego e fazer uma praça no local.

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Martins contou ter sido acordado pelo barulho do desabamento. Ele mora com a esposa, quatro filhos e um neto em uma das casas que foi interditada. “Estava dormindo, peguei os meninos e saí correndo de lá”, relatou. O balconista confessou não ter para onde ir. “Vou esperar o dia amanhecer para ver o que eu faço. Mas se a Prefeitura me oferecer para ir para um abrigo, eu não vou não. Moro há 20 anos na mesma casa e não vou para abrigo.”

Conforme os vizinhos, cada uma das famílias moradoras dos barracos demolidos recebeu R$ 5 mil da Subprefeitura. Na ocasião, Marilene afirma que chegou a procurar os funcionários da administração municipal. “Fiz isso porque minha casa ficava do lado. Eles me disseram que no momento eu não estava no esquema para sair e que eu poderia ficar sossegada. Mas daí acabou acontecendo tudo isso”, lamentou ela. Uma equipe da Defesa Civil esteve no local para uma vistoria durante esta madrugada. Até o momento, a Defesa Civil e Subprefeitura do Itaim Paulista não comentaram o assunto.

Rota de fuga

Com os desmoronamentos, a passagem de moradores de três casas próximas ao barranco ficou bloqueada por entulho. Presos, eles tiveram de fazer um buraco na parede de uma delas para conseguir sair do local por uma viela lateral. “Escutei o barulho, foi tipo um terremoto. Daí ouvi muitos gritos. Quando vi o que tinha acontecido, a uns 20 metros daqui, peguei uma marreta e comecei a abrir o buraco na parede”, relatou o desempregado José Mamedio de Souza, de 48 anos. Souza foi ajudado pelo genro, o auxiliar de limpeza Aristóteles Bernardino Moreira dos Santos, de 25 anos.

Santos mora com a esposa e a filha na casa que fica em cima da residência do sogro. Ao todo, saíram do local pelo buraco aberto na parede da casa de Souza oito adultos e três crianças. “Além da minha família e da do meu genro, teve os meus primos que moram aqui do lado, que também ficaram presos”, explicou o desempregado. Com medo de novos desabamentos, todos deverão se alojar provisoriamente na casa de parentes.

A cunhada de Souza, a comerciante Marlene dos Santos Neto, de 56 anos, escapou por pouco de ser soterrada nos escombros. Ela visitou a família da irmã ontem à noite e passou pelo saída interditada pelo entulho menos de cinco minutos antes do acidente.

“Moro aqui do lado. Vim fazer a visita para a minha família. Quando estava indo embora, vi um cano estourado e umas rachaduras e até chamei meu cunhado para vir ver. Foi o tempo de dar as costas e sair, quando cheguei em casa já escutei o barulho de tudo caindo”, explicou. “E meu cunhado ainda ia arrumar esse cano. Eu nasci de novo e ele também.”