Trem-bala tem custos errados, afirma CBT

Os custos para construção do trem de alta velocidade (TAV) entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas apresentam discrepâncias nos preços de escavação de túneis. A constatação é do presidente do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), Tarcísio Celestino, com base no projeto do governo federal. Os túneis em área rural, por exemplo, são 46% mais caros que na área urbana, quando normalmente ocorre o contrário. O preço de escavação de túnel simples – com uma via e 7,85 metros de diâmetro – é 17% mais caro que o duplo, de 16 metros.

Nos 510 quilômetros do traçado do trem-bala, 90,9 quilômetros (18% da obra) devem ter túneis, segundo o estudo elaborado pelo consórcio Halcrow/Sinergia, contratado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). As obras civis, que incluem 107,8 quilômetros de pontes e viadutos, vão custar R$ 24,5 bilhões, cerca de 71% de todo o projeto, orçado em R$ 34,6 bilhões.

O preço do metro escavado de túnel em local onde o solo é composto por rocha é só 4% mais barato do que o mesmo serviço em local onde o solo é mole. “Em casos reais de rocha de boa qualidade, a diferença pode superar 50%. Não vou dizer que a obra é cara ou barata, mas a planilha é inconsistente. Apoiamos o empreendimento, mas há necessidade de apontar mudanças de rumo”, disse o presidente do CBT, no seminário A Engenharia Nacional e o TAV, realizado no Instituto de Engenharia, em São Paulo. O metro escavado de túnel em área rural, sem grandes interferências na superfície, foi estimado no estudo em R$ 160,9 mil, enquanto em área urbana é de R$ 86,7 mil.

De acordo com Hélio França, superintendente da ANTT, os preços no estudo da Halcrow/Sinergia tiveram como base túneis da Europa, do Metrô de São Paulo e do Rodoanel, mas os preços apontados são apenas “uma referência” para os editais do TAV. “Nós tropicalizamos os custos, usando o Sisco, um sistema de custos que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que o próprio TCU (Tribunal de Contas da União) utiliza e os empreiteiros não gostam.”

O responsável pelos estudos geológicos e geotécnicos do TAV, André Pacheco de Assis, presidente do Comitê Sobre Treinamento e Educação do International Tunnelling Association, disse que foram realizadas 519 sondagens em solo e rochas em todo o percurso proposto, num período de 75 dias. “Os custos já foram revistos porque não estavam adequados. O traçado apresentado está aprovado pelo governo federal e atende aos requisitos das pessoas que vão usar o TAV.”