Um grupo de defesa dos direitos dos travestis no Rio Grande do Sul recebeu ontem ameaças por telefone de supostos neonazistas. Na ligação, o interlocutor advertiu que a 14ª Parada Livre de Porto Alegre, que será realizada no próximo domingo, no Parque da Redenção, em Porto Alegre, será o alvo. O telefonema foi feito para a sede do Igualdade – Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul.
O homem do outro lado da linha procurava por Marcelly Malta, presidente do grupo e organizadora da Parada Livre. Com a ausência da dirigente, ele deixou um recado: que os neonazistas da cidade de Santa Cruz do Sul, no interior gaúcho, estavam se organizando para o evento. “Vocês já se aprontem para domingo”, ameaçou o homem, para depois desligar o telefone.
Marcelly conta que, apenas este ano, dois travestis foram assassinados em Porto Alegre. Um foi espancado em um parque da capital e morreu no hospital. Em outra edição da Parada Livre, foram afixados cartazes no bairro Bom Fim, onde ocorre a passeata e reduto de descendentes judeus, em Porto Alegre, fazendo alusão à morte de gays. “Tenho muita preocupação, porque na Parada Livre de domingo não desfilarão apenas travestis, mas muitos outros movimentos sociais”, adverte Marcelly. No início do mês, foi realizada uma reunião com a Polícia Militar (PM) e a Polícia Civil para discutir a medidas de segurança a serem empregadas no evento.
No dia 5 de novembro, a Polícia Civil gaúcha apreendeu em uma residência no centro de Porto Alegre material de apologia ao nazismo. Fotografias, CDs, camisetas, distintivos, facas, uma soqueira e um computador portátil foram recolhidos. Ninguém foi preso. Entre o material, um vídeo chamou a atenção. Nele, trechos de reportagens sobre a política de cotas para negros nas universidades são intercalados com cenas de violência entre agressores negros e vítimas brancas. Em um momento do filme, aparece o rosto do senador Paulo Paim (PT-RS), militante do movimento negro.
A ação foi desencadeada porque havia informações de que o grupo estaria reunindo armas e até bombas no local. “Havia suspeitas de que até o final do ano ocorresse algum atentado”, afirmou o delegado Paulo César Jardim, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre e que, há oito anos, combate os neonazistas no Estado. Na ocasião, ele citou como possíveis alvos sinagogas e passeatas, como a Parada Livre.