Ônibus queimado na Avenida Brasil:
o crime contra-ataca.

Rio – O Rio teve ontem mais uma madrugada violenta, com ações ousadas do crime organizado nas zonas norte e sul. Bombas foram lançadas contra a estação de metrô em Del Castilho, o Hotel Meridien, na praia do Leme, e um supermercado próximo, assustando turistas. Na Avenida Brasil, dois ônibus e dois carros foram incendiados e outro coletivo foi metralhado. Um policial foi executado.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que os atos foram uma reação ao “combate implacável” do governo aos criminosos. A polícia acredita que os bandidos agiram em represália à prisão, há quatro dias, dos traficantes Jorge Alexandre Cândido, o Sombra, e o chileno Carlos Orlando Mesina Vidal, o Gringo, dois importantes aliados de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. O secretário de Segurança Pública do RJ, coronel Josias Quintal, classificou as ações de ?burras? e disse que a resposta será mais repressão ao tráfico. “Eles vão apanhar por causa disso.”

O primeiro registro foi em Del Castilho, na zona norte, às 2h30. Um grupo lançou dois coquetéis-molotov na estação do metrô do bairro e no shopping center Nova América. A vidraça da fachada do shopping ficou quebrada. Antes de fugir, os bandidos ainda metralharam a porta do metrô. Não houve feridos. Meia hora depois, o ataque foi no Leme. Duas bombas caseiras foram lançadas por motociclistas na Avenida Princesa Isabel: no Hotel Meridien, palco da famosa cascata de fogos na noite do réveillon, e no supermercado Princesa, distante cem metros. Ninguém foi atingido. De manhã, a imagem das vidraças quebradas assustou turistas hospedados no hotel.

Às 3h30, na Avenida Brasil, pelo menos vinte traficantes das favelas do Complexo da Maré, que fica às margens da via, atearam fogo a dois ônibus e dois carros. Um terceiro coletivo foi metralhado. Houve tiroteio com PMs e o tenente Gabriel Idalino da Silva Junior, de 26 anos, morreu com um tiro de fuzil na cabeça. Ele será enterrado hoje de manhã, no cemitério Jardim da Saudade de Sulacap, zona norte, com honras militares.

Numa operação pela manhã, que envolveu 350 PMs, a polícia prendeu os suspeitos Renato Azevedo de Souza, de 23 anos e Andréia de Paula, de 28, na favela Nova Holanda. Eles estavam com um fuzil, uma moto roubada e um quilo de cocaína.

Josias Quintal não descartou a hipótese de Beira-Mar, preso na carceragem da Polícia Federal em Macéio, ser o responsável pelos atos, tese rechaçada pelo ministro da Justiça. Thomaz Bastos, que participou ontem de um encontro com jornalistas estrangeiros na Confederação Nacional do Comércio, no Rio, afirmou que o traficante é um prisioneiro como qualquer outro. “Estão querendo construir um popstar”, criticou.

O ministro disse que a violência de ontem mostrou que os criminosos “estão sentindo que não tem negociação, não tem complacência.”

Exército pode voltar às ruas

Rio

– O ministro Thomaz Bastos disse ontem que, se for necessário, o Exército pode voltar às ruas do Rio, em uma ação pontual. “Temos 1.500 homens aquartelados em condições de a qualquer momento fazer uma ação eficaz”. A ação de ontem foi a terceira vez em grande escala que bandidos transformam o início da semana em ?Segunda-feira Sem Lei?. No dia 24 de fevereiro, bandidos espalharam o terror por 33 bairros de quatro municípios e da capital. A ação, orquestrada por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, deixou conseqüências trágicas. Um motorista morreu com tiro na cabeça ao cruzar barreira de bandidos em Manguinhos. Nove pessoas ficaram feridas, sete delas queimadas em ataques a ônibus com coquetéis molotov. Bombas explodiram em Botafogo, Tijuca e Ipanema. Trinta e oito ônibus foram destruídos: 25 incendiados e 13 depredados. Com a sensação de medo nas ruas, comerciantes arriaram as portas, e pais buscaram filhos mais cedo nos colégios.

No dia 30 de setembro de ano passado, também uma segunda-feira, o Rio amanheceu com medo. A sensação de insegurança, somada a uma onda de boatos, alimentada pela destruição de cinco ônibus e ameaças a lojistas.

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